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Pecuária

Aconteceu em 2020: fazenda de Minas Gerais coloca 'sutiãs' em vacas

Em reportagem publicada em setembro, veterinária explicou que sustentador de úbere aumenta o bem-estar animal e ajuda em casos de frouxidão ligamentar

Quem visita a fazenda Zuniga, na cidade de Serranos, região sul de Minas Gerais, vai encontrar uma bela paisagem interiorana, uma típica propriedade rural e animais de excelente genética. Mas a fazenda que surgiu de um sonho de um cidadão da cidade há 21 anos, trouxe uma novidade que não se costuma ver pelos campos do Brasil: vacas usando o sustentador, ou sutiã, que segundo os proprietários estão ajudando a evitar os problemas de úbere.

Foto: Fazenda Zuniga

Em setembro deste ano, conversamos com Eveline Zuniga, médica veterinária e filha do dono da fazenda, que foi uma das responsáveis pela a implantação da técnica na propriedade. Segundo ela, a produção leiteira foi um sonho realizado do pai, Carlos Zuniga, quando se aposentou e decidiu morar no campo. Como a família não tinha tradição na produção rural, teve que pesquisar e aprender muito e, por isso, sempre esteve aberta às novidades. Essa, no caso, veio de uma viagem feita à fria Islândia.

“Em julho de 2019, viajamos de férias para a Islândia e resolvemos inserir em nosso roteiro a estadia em um hotel fazenda. Em visita aos estábulos, deparei-me com uma raça, até então desconhecida para mim, chamada icelandic. São vacas de pequeno porte, do tamanho de uma jersey, mansas e boas produtoras de leite, em sua maioria de coloração avermelhada, e originárias da Noruega. Percebi que elas usavam algo que parecia uma cinta por todo o corpo e, na região do úbere, era algo como se fosse uma rede”, disse.

Intrigada com aquele equipamento, a veterinária perguntou aos moradores locais do que se tratava. “A proprietária da fazenda me devolveu a pergunta, questionando e eu não sabia para que serve um sutiã. Bom, era isso mesmo, é um sustentador de úbere para as vacas”, contou.

A maioria dos animais na região usam para garantir um bem-estar. Interessada, Eveline foi atrás de lojas onde poderia adquirir o produto.

Na Europa, o protetor é um ótimo aliado durante dias mais frios. Apesar de o auge do inverno em Minas Gerais ser mais parecido com o verão islandês, a veterinária descobriu outras vantagens de usar o acessório.

“Conversando com um especialista na área de bovinos leiteiros, ele me mostrou que pode ser realmente muito útil para toda a cadeia leiteira, inclusive para o gado de elite. Muitas vezes precisa-se descartar um animal de alto valor genético, pois ela não aguentaria produzir leite por mais uma ou duas lactações (por conta da frouxidão ligamentar do úbere). Sendo assim, o sustentador de úbere pode auxiliar na longevidade dos animais”, contou.

Outro produto importado por ela foi uma roupa térmica para bezerras, que podem ser utilizados por animais com problemas respiratórios o pós-nascimento em dias mais frios.

Implantação dos sutiãs

Apesar de enfrentar um pouco de resistência por parte de funcionários que nunca ouviram falar daquelas vestimentas, Eveline fez os primeiros testes com o sutiã em uma vaca mais velha, com o ligamento suspensório médio afrouxado. “O resultado foi excelente, pois ela se sentiu mais confortável e os quadros de mastites reduziram”, disse.

Como haviam trazido apenas uma peça da Europa, acabaram reproduzindo outros com materiais mais parecidos com o original. Os animais, segundo ela, também aprovaram a roupa térmica, que foi utilizada em uma bezerra que sofria de problemas respiratórios. “Voltamos em julho, e estava bem frio. Aplicamos a térmica na bezerra e o resultado foi ótimo, junto com o tratamento convencional de antibióticos e anti-inflamatórios.

Foto: Fazenda Zuniga

Segundo ela, o sutiã não foi rejeitado por nenhuma vaca.  “Em média, os animais demoram algumas horas para se adaptar. Elas ficam se olhando, acredito que tentando compreender o  que estão usando, mas só curiosidade mesmo, pois não causa desconforto, já que as alças que passam pelo corpo do animal são de algodão.  Na ordenha seguinte era como se o animal não estivesse usando nada”, contou.

Em relação à mastite, a veterinária explica que o foco do sustentador não esteja relacionado com a prevenção da doença e não há como comprovar essa ligação. Apesar disso, alega ela, o manejo melhorou e a mastite nesse animal específico diminuiu.

Até setembro, a fazenda utilizava o sustentador em animais que precisavam, principalmente em casos de frouxidão ligamentar. “Temos a ideia de implantar na propriedade como uma das medidas de bem-estar animal, ou seja, utilizarmos em animais com úberes bem pesados, edemaciados pós-parto, já que a pressão no ligamento aumenta muito no início da lactação e o sustentador pode ajudar na distribuição do peso do úbere para o dorso do animal. Entre outros benefícios que encontramos em nossas pesquisas e utilização, o úbere fica protegido e assim os animais ficam menos propensos a sofrerem lesões acidentais nos tetos, como pisão, causado pelo próprio animal ou pelas companheiras de lote. Há também indicações para utilização em animais no pré-parto, de 2 a 3 semanas,  e 2 a3 semanas no pós-parto. Durante esse período, o úbere pode ser preenchido com 40 a 50 de leite, às vezes mais, colocando uma grande pressão nos ligamentos que “prendem” o úbere ao corpo da vaca”, explicou.

Foto: Fazenda Zuniga

Na época, a veterinária explicou que não há como comprovar melhora na produção leiteira por causa do sustentador, já que tem utilizado poucos exemplares. “Assim que confeccionarmos outros exemplares, vamos testar em mais animais e acredito que possamos ter um comparativo de produção pré e pós utilização do sustentador de úbere”, finalizou.

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