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Febre aftosa: o fim da vacinação prejudicaria pecuaristas?

Embargo dos EUA à carne bovina brasileira reacende o debate sobre a intenção do governo de suspender a imunização contra a doença no país

Fonte: Canal Rural/reprodução

A decisão tomada há poucas semanas pelos Estados Unidos de embargar a carne brasileira in natura reacendeu a discussão sobre a retirada da vacina contra a febre aftosa aqui no país. A intenção do governo federal é a de acabar com a vacinação contra a doença até 2021, mas o plano ainda é debatido pelo setor. Em Minas Gerais, entidades acreditam que é necessário definir melhor as etapas do processo para não prejudicar os próprios pecuaristas.

No Brasil, atualmente apenas o estado de Santa Catarina é considerado livre de febre aftosa sem imunização, situação que pode mudar nos próximos anos. Além de ter a intenção de retirar o uso da vacina em quatro anos, o governo pretende reconhecer o país como livre da doença sem vacinação até 2023.

A ideia é realizar essa operação em etapas. A primeira delas deve começar em 2018, mas antes a comunidade internacional precisa reconhecer os últimos três estados brasileiros que ainda não são considerados livres da doença com vacinação: Amapá, Amazonas e Roraima.

Para a Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ), o projeto é importante para elevar o status sanitário do país. Mas a entidade acredita que, primeiro, seja necessário criar um fundo de indenização. Assessor técnico da ABCZ, João Gilberto Bento afirma que, caso a vacina seja retirada e ocorra atividade viral em alguma propriedade, o criador precisa ter a garantia de receber uma compensação. 

“Vale lembrar que, quando uma propriedade é interditada, é interditado também um raio de 25 km ao redor. No caso dos rebanhos PO (puros de origem) é mais complicado ainda, porqu esses animais têm um valor agregado altíssimo”, alerta Bento.

Segundo o assessor, é preciso também coordenar as ações com os países vizinhos para evitar o trânsito de animais infectados e fortalecer os acordos internacionais para não haver perda de mercados externos. “Se você retira a vacinação e surge um foco da doença no Ceara, por exemplo, não pode acontecer como em outras situações em que o país todo para de exportar. É preciso controlar o foco, fazer o período focal, indenizar o produtor e o país continua com suas atividades com todos os outros países”, diz.

O presidente do Sindicato Rural de Uberaba (MG), Romeu Borges, acredita que a vacina é importante para o controle sanitário do país, mas afirma que a campanha atual precisa ser modernizada. Segundo ele, é vacinação a cada seis meses é exagerada. “Já que o país pretende erradicar a vacinação em alguns anos, nós podemos iniciar fazendo apenas uma vacinação no ano para animais até 24 meses, monitorar e depois, se estivermos seguros nós retiramos a vacinação”, sugere. 

Reações

A campanha de combate à febre aftosa no Brasil é dividida em duas etapas. Em maio, são imunizados bovinos e bubalinos com até 24 meses e, em novembro, todos os animais devem ser vacinados outra vez, independentemente da idade. Para o pecuarista Alan Ventura, a vacina é importante para a manutenção sanitária do país, mas é preciso rever a composição do produto para evitar as reações nos animais.

“Sabemos que o Brasil tem problemas de aplicação com agulha suja, ou por aplicar em lugares errados, mas também existem problemas na composição da vacina. Nós fazemos várias vacinas reprodutivas aqui na fazenda, mas nenhuma delas causa tanto reação como a vacina da aftosa. Alguma coisa precisa ser feita (para resolver isso)”, afirma Ventura.

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