Há 40 anos produzindo o leite tipo B, o produtor Benedito Vieira Pereira ficou indignado com a mudança. O argumento utilizado pelo Ministério da Agricultura de que o leite B está em desuso, revoltou o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de leite Pasteurizado (Abilp).
– Não fosse a idoneidade da pessoa que usou a palavra desuso, nós certamente afirmaríamos que esta frase é de uma pessoa de outro planeta, que não conhece a realidade. Isso porque o leite B está no mercado há mais de 40 anos, o melhor produto a disposição do consumidor juntamente com o leite A – afirma.
Benedito também é presidente da Cooperativa de Laticínios de São José dos Campos (Cooper), que produz 70 mil litros de leite por dia, 80% tipo B e 20% tipo C. Ele não concorda com a unificação e pelo menos por enquanto vai continuar produzindo os dois tipos.
– É óbvio que vai continuar. Se querem unificar, que seja nivelado por cima e não por baixo, que país nós estamos? Um país que querem que as coisas melhorem ou piorem? Eu não acredito que seja isto que eles estejam querendo. Jamais vai mudar. Pode mudar o nome de B para H, mas o leite vai continuar com a mesma qualidade – afirma.
Dois meses antes da publicação da Instrução Normativa, o mesmo Ministério da Agricultura aprovou um novo rótulo da cooperativa para o leite B, o que segundo Benedito, mostra falta de convicção. De acordo com ele quem sai ganhando é a indústria de leite longa vida que detém cerca de 80% do mercado nacional.
Segundo nota divulgada pela Associação Brasileira da Indústria de Leite Longa Vida, as mudanças são positivas e representam um passo importante na melhoria da qualidade do leite no país. Só em 2011 a indústria do longa vida recebeu investimentos de mais de R$ 1 bilhão.
De olho neste mercado e desanimado com a unificação, o presidente da Cooperativa de Laticínios do Médio Vale do Paraíba (Comevap), Francisco Gomes, já pensa em mudar o tipo de produção. A cooperativa tem sede em Taubaté e produz 130 mil litros por dia de leite B e C.
– Estamos estudando a possibilidade devido ao grande consumo hoje de UHT no mercado. Hoje temos aproximadamente o mercado consumidor do leite UHT por faixa de 85% e o pasteurizado na faixa dos 15%. Então a logística do pasteurizado, a cada dia que passa os clientes são mais exigentes e isto dificulta um pouco no dia a dia – afirma.
Por enquanto o presidente da cooperativa garante que não haverá mudança na produção, até porque segundo ele, a Instrução Normativa é confusa e muitos pontos ainda permanecem indefinidos.
– Quanto à fiscalização e responsabilidade é que estamos com mais dúvidas. De quem seria o leite fora de norma? De quem é a responsabilidade, é do estabelecimento? Como isto vai ser legislado? O que faço com o leite fora da Normativa 62? – questiona Francisco.