Desde o início do surto de raiva, há três anos, mais de 100 mil animais morreram em todo o Estado. A situação é grave e coloca em alerta a região da Campanha e a divisa com o Uruguai, país vizinho que já detectou três focos da doença.
– Estamos na expectativa, com medo de que entre ainda para Bagé. Agora, em uma conversa com uruguaios, eles detectaram três focos na região de Aceguá, a uma distância de cinco quilômetros da nossa fronteira, ou seja, agora complica muito mais. O alerta que eu quero fazer aos produtores rurais é o fato de temos um vírus vindo em nossa direção. Considero a saúde pública como problema principal. Se há vírus, tem pessoas expostas. Outro lado é a questão econômica, que tu pegas propriedades de alto padrão genético, de bovinos e equinos. Tem haras aqui de valor altíssimo, isso vai ser um estrago medonho se chegar a acontecer. Só este ano, nós temos em torno de 650, 680 animais que morreram – explica o coordenador do Programa de Controle da Raiva Herbívora no Rio Grande do Sul, Nilton Rossato.
O pecuarista João Eduardo da Silva perdeu 50 animais em Joca Tavares, um distrito do município de Bagé. Segundo ele, junto com os vizinhos, já chega a 80 o número de mortes por raiva herbívora. No início, ele achou que se tratava de outra doença. O maior problema é que ele só vacinou o rebanho depois que os sintomas apareceram e os primeiros animais começaram a cair no chão.
– Tive a iniciativa de fazer a vacinação após o diagnóstico. Após o tratamento, aqueles animais não reagiam e aí começaram as mortes e, então, realizamos exames. Foi constatada a raiva. Eu inicio amanhã a segunda fase da vacina para dar a proteção aos bovinos, equinos e ovinos, que também têm perdas – afirma Silva.
A vacina precisa ser reaplicada 21 dias depois da primeira dose. Depois da mordida do morcego, a doença tem um período de incubação de até 180 dias antes de se manifestar, o que significa que o produro ainda pode perder mais animais, porque mesmo tendo dado a primeira dose, o rebanho já pode estar infectado.
– Já estou com uma perda na propriedade em torno de 20 bovinos, quatro equinos e umas 25 ovelhas. Até a data de hoje, sigo encontrando animais mortos e com sintomas da raiva diariamente no campo – acrescenta Silva.
De acordo com Rossato, o que favorece o avanço da doença é a falta de conscientização dos produtores rurais. A vacina não é obrigatória e exige maior manejo dos animais para a reaplicação, fatores que influenciam os pecuaristas a não realizarem a prevenção ou só tomar a iniciativa depois que a doença já se instalou no rebanho, o que não tem eficácia.
– Até esse momento a gente não conseguiu sensibilizá-los suficientemente sobre a gravidade do problema. Na realidade, outra coisa que a gente custa a entender é uma vacina barata, em torno de R$ 0,60, R$ 1,20, que não é usada. Lamentavelmente, nosso criador só entra no jogo quando os animais começam a morrer, e isso é um problema porque os morcegos já morreram e transmitiram para outros, que estão em torno de 15 quilômetros a frente, aí é a dificuldade – explica o coordenador.
Foi o que aconteceu com o pecuarista Luis Carlos Corrêa, de Palmas, na região de Bagé. Todos os dias ele perde parte do rebanho, incluindo animais de alto padrão genético.
– Isso surgiu na região em 2012. Descobrimos uma furna dentro da propriedade. Resolvemos vacinar em agosto. Quando tínhamos que vacinar de novo, por não ter acontecido nada, relaxamos e não aplicamos a vacina. Já perdemos em torno de 15 a 20 terneiros, e agora estamos começando a perder cavalos. É um baita prejuízo – destaca Corrêa.
– Nós só vamos controlar a raiva se todas as atribuições forem executadas. O produtor localizando o refúgio, nos avisando, vacinando os animais, não só fazendo o controle, combatendo os refúgios. Isso nos levaria a estancar a progressão. Esse é o objetivo – diz Rossato.
Na segunda parte desta reportagem especial, que vai ao ar nesta terça, dia 8, veja as ações de combate ao surto de raiva no Rio Grande do Sul.