Em um primeiro momento, as perdas não têm se refletido para o consumidor. A oferta de leite importado dos países vizinhos derruba os preços internos e mantém a queda do custo do produto nas prateleiras. A expectativa é de que os preços ao consumidor final continuem em baixa ? cerca de R$ 1,60 pelo leite longa vida.
No campo, os prejuízos começam a ser calculados. É o caso do pequeno criador Alberto Oliveira, do município de Passo Fundo. As 12 vacas leiteiras de sua propriedade estão produzindo menos nos últimos dias. O campo encharcado pelo excesso de chuva afetou o pasto, e os animais já não têm mais alimento para sustentar a produção leiteira. Em períodos normais, cada exemplar produz em média 16 litros de leite por dia. Desde que o frio e a chuva se intensificaram na região, a produtividade por animal baixou para 12 litros diários.
Para contornar o problema da falta de pasto, a reserva de alimento é uma estratégia, aponta o veterinário Alan Rhaman, da Cotrijal, da cidade de Não-Me-Toque. A alternativa para manter a produtividade é usada pelos cooperados, que têm vacas com produção média diária de leite de 22 litros. Pastagens cultivadas anteriormente são guardadas e usadas para alimentar os animais em períodos como este. A perda entre produtores que não se previnem pode, entretanto, chegar a três litros por animal a cada dia.
Outra preocupação que atinge os criadores, além do clima, é o preço baixo recebido pelo litro do leite, estimado em R$ 0,68 pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura no RS (Fetag). Em audiência realizada nessa quarta, dia 21, os produtores reclamaram do valor pago pela indústria e condenaram a liberação das importações de leite da Argentina e do Uruguai ? foram pelo menos 1,3 milhão de litros trazidos do Mercosul em junho. Aquisição também contestada pela indústria.
? A presença desse leite importado, que entra com um preço menor, acaba achatando os preços e se refletindo em toda cadeia ? explica Darlan Palharini, do Sindicato da Indústria do Laticínio.