Governo federal teme que a supervalorização nos preços do leite influencie na inflação

Valor do leite subiu 20% nos últimos doze meses, segundo IBGESegundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço do leite subiu 20% nos últimos doze meses. O governo teme que essa supervalorização influencie na inflação, como aconteceu com o tomate e o feijão no início do ano. A preocupação está agora com o aumento no valor do produto e o impacto sobre os índices de preços.

Para isso, o governo prepara mudanças nas regras de importação de leite em pó da Argentina, na tentativa de atacar o mais novo vilão da inflação. O objetivo é flexibilizar as regras de restrição voluntária de exportações que limita a venda de leite do país para o Brasil, a 3,6 mil toneladas de leite em pó a cada mês. A intenção é comprar mais para tentar controlar o aumento do produto.

Preço ao produtor

Segundo levantamento feito pela Scot Consultoria, considerando a média nacional, o produtor recebeu no pagamento de junho, em média, R$ 0,93 por litro de leite. Alta de 2,7% em relação ao pagamento de maio. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o produtor está recebendo 14,4% mais pelo litro do produto. Considerando os valores deflacionados, os preços do leite, hoje, se aproximam dos praticados em 2008 e 2009, os maiores historicamente.

De acordo com a Scot, a forte concorrência entre os laticínios e a boa demanda do consumidor são os principais fatores de alta. A previsão é de um pico de preço em 2013 no pagamento de julho, se mantendo estável até agosto, por volta de R$ 0,95 por litro.

O produtor de leite de Taubaté, 130 km da capital paulista, Mario Bertolli, acredita que o mercado está ajustado, com uma pequena margem de lucro para quem produz, já que os insumos estão cada vez mais caros.

– Na verdade, vem melhorando. De uns meses pra cá vêm tendo uns reajustes pequenos na faixa de uns 3% ao mês. Hoje, a gente conseguiu recuperar 12% do ganho real. Se continuar desse jeito, ao longo do ano pode ser que a gente equilibre as contas – diz Bertolli.

Para o presidente da Leite Brasil, Jorge Rubez, o preço pago ao produtor está de acordo com o custo de produção. Segundo ele, se paga um real bruto por litro ao produtor. Dependendo da região é possível conseguir um lucro de 5 a 10%.

– O que move a cadeia do leite nominal é o lucro. Não adianta nada vender a R$ 1,08 e o custo de produção estar muito perto disso. Logo, o produtor não estará tendo rentabilidade. Fica muito caro, principalmente, quando o produtor paga mais caro do que era gasto no ano passado pelos insumos. O custo de produção aumentou. Não é o preço que subiu. Nós não temos alternativas, senão, temos que parar – argumenta Rubez.

Preço ao consumidor

No supermercado, preço do leite segue em alta. Segundo a Scot, na média, os valores dos produtos lácteos subiram 0,5% na segunda quinzena de junho, em relação à primeira quinzena do mês. O litro de leite longa vida subiu 1,8%, sendo comercializado, em média, entre R$ 2,31 e R$ 2,79, no final do mês. No acumulado do semestre a alta é de 27,7%.

Já o leite em pó integral subiu 1,6% neste período. O quilo foi cotado, em média, em R$ 14,64. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o aumento é de quase 41% (0,9%). A curto prazo a estimativa é de mais alta de preços no mercado de lácteos.

Com valores altos nos supermercados, o governo federal especula intervir e trazer leite de fora. Para Rubez, se isto ocorrer, será prejudicial para o país.

– Os caminhões dão cinco voltas ao mundo por dia nestas estradas péssimas. Isso é um custo altíssimo e representa custo de produção. Se o governo fizer uma pesquisa para ver o grande vilão da história, vai ver que o grande ele é o varejo, que não abre mão da sua margem de 30% – critica.

O consumidor final do leite, pesquisa, e muitas vezes, não percebe que os preços estão diferentes nas prateleiras. É o que relata o professor Luiz Fernando.

– Eu não percebi, mas o leite anda subindo constantemente. Está mais caro. A inflação está aí para todo mundo ver – diz.

Exportações e Importações

Em junho as importações, em volume, apresentaram aumento de 4,6% com relação a maio. Já as exportações sofreram queda de 19,5% na comparação mensal. Um déficit de 8 mil e 300 toneladas, 17,2% a mais se comparar ao défict registrado em maio. Em valores, o défict chega a ser 28,3% maior que o de maio, isso por conta da importação de leite em pó, um dos produtos de maior valor agregado.

As importações de leite em pó passaram de 2 mil e 700 toneladas em maio (US$10,8 milhões) para 4 mil e 600 toneladas em junho (US$17,5 milhões). Ainda assim, a balança comercial de lácteos brasileira no primeiro semestre de 2013, teve um desempenho melhor que o registrado em 2012, quando se teve um volume maior de importações. O défcit em 2013 está 26,8% menor que o acumulado no primeiro semestre do ano passado.

O preço do leite em pó subiu no mercado internacional devido a seca na Nova Zelândia, principal exportador mundial. A tonelada subiu de US$ 3.600 em setembro do ano passado, para US$ 5.500 no início de 2013. Já houve recuo, mas os preços continuam distantes do ano passado.

 

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