Governo precisa controlar e mapear surto de língua azul no país, alerta ovinocultor

Pedro Porto é dono de uma propriedade interditada desde julho; ele não consegue obter autorização para receber uma vacina oferecida pela EspanhaO dono de uma propriedade em Vassouras, no interior do Rio de Janeiro, que está interditada parcialmente desde julho devido à incidência do surto de língua azul, está preocupado com a geração de ovinos que está por vir. Dos cem animais leiteiros infectados, 28 morreram e 50 estão em fase de parição. A doença ainda não tem imunização no Brasil e o produtor não consegue autorização para receber uma vacina oferecida de forma gratuita pela Espanha.

– É uma doença endêmica, está no Brasil, e é desconhecida pelos veterinários, pelos produtores. Ela vai atacar de novo a propriedade, gerando novos prejuízos, novos problemas –  afirma Pedro Porto, que lida com a atividade há cinco anos.

Ele reclama da falta de ações governamentais para auxiliar os pecuaristas da região fluminense, que chama atenção pelos focos doença.

– Ninguém está pedindo vacinação do rebanho nacional, isso é impossível, o Ministério da Agricultura não teria capacidade técnica para isso. O que a gente pede é o controle desse surto e o mapeamento da doença, que está causando prejuízos aos pecuaristas de bovinos, de caprinos, de ovinos. O ministério está se omitindo completamente – enfatiza. 

Porto convive com os sintomas da infecção no rebanho há pelo menos três anos, e só conseguiu obter o diagnóstico exato em março deste ano, com a ajuda de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF). O produtor pode comercializar o leite e o queijo dos animais (já que não se trata de uma zoonose), mas está preocupado porque o vírus ainda é presente na região.

– As associações estão com medo, os produtores estão com medo de serem interditados arbitrariamente. Eu estou há sete meses com a propriedade fechada. A fazenda não está isolada e o foco não está controlado, isso é falso, pois você não tem como controlar um foco onde se tem mosquito. A doença está na região e ataca ruminantes em geral. Todos estão com medo de se envolver nessa causa – ressalta o ovinocultor.

Porto lembra que, desde 2003, o Ministério da Agricultura já classificava a endemia como alarmante, com altos índices de registros em rebanhos brasileiros. Na época, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou um estudo chamado “Língua Azul – conhecer para prevenir”.

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A enfermidade infecciosa é provocada pelo Vírus da Língua Azul (VLA), da família Reoviridae e do gênero Orbivirus, que conta com 26 diferentes sorotipos espalhados ao redor do mundo. A doença atinge principalmente camelídeos e ruminantes, dentre estes os bovinos e os ovinos, esta última espécie mais sensível ao VLA.

Segundo pesquisadores da UFF, o nome língua azul foi atribuído devido a um sinal característico nos animais adoentados, embora raramente se manifeste: a língua apresenta inchaço e torna-se cianótica, de coloração azulada. Outros sintomas que se manifestam são febre alta (entre 41 e 42 graus), lesões nos lábios, salivação e secreção nasal excessivas, vermelhidão (hiperemia) na pele, face inchada e perda de apetite. Em médio prazo, o animal apresenta claudicação e coluna arqueada, e começa a mancar, por causa da dor e da inflamação na coroa do casco. As grandes causas de morte são os edemas pulmonares provocados pela replicação do vírus e as pneumonias bacterianas secundárias.

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