– É uma doença endêmica, está no Brasil, e é desconhecida pelos veterinários, pelos produtores. Ela vai atacar de novo a propriedade, gerando novos prejuízos, novos problemas – afirma Pedro Porto, que lida com a atividade há cinco anos.
Ele reclama da falta de ações governamentais para auxiliar os pecuaristas da região fluminense, que chama atenção pelos focos doença.
– Ninguém está pedindo vacinação do rebanho nacional, isso é impossível, o Ministério da Agricultura não teria capacidade técnica para isso. O que a gente pede é o controle desse surto e o mapeamento da doença, que está causando prejuízos aos pecuaristas de bovinos, de caprinos, de ovinos. O ministério está se omitindo completamente – enfatiza.
Porto convive com os sintomas da infecção no rebanho há pelo menos três anos, e só conseguiu obter o diagnóstico exato em março deste ano, com a ajuda de pesquisadores da Universidade Federal Fluminense (UFF). O produtor pode comercializar o leite e o queijo dos animais (já que não se trata de uma zoonose), mas está preocupado porque o vírus ainda é presente na região.
– As associações estão com medo, os produtores estão com medo de serem interditados arbitrariamente. Eu estou há sete meses com a propriedade fechada. A fazenda não está isolada e o foco não está controlado, isso é falso, pois você não tem como controlar um foco onde se tem mosquito. A doença está na região e ataca ruminantes em geral. Todos estão com medo de se envolver nessa causa – ressalta o ovinocultor.
Porto lembra que, desde 2003, o Ministério da Agricultura já classificava a endemia como alarmante, com altos índices de registros em rebanhos brasileiros. Na época, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) lançou um estudo chamado “Língua Azul – conhecer para prevenir”.
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A enfermidade infecciosa é provocada pelo Vírus da Língua Azul (VLA), da família Reoviridae e do gênero Orbivirus, que conta com 26 diferentes sorotipos espalhados ao redor do mundo. A doença atinge principalmente camelídeos e ruminantes, dentre estes os bovinos e os ovinos, esta última espécie mais sensível ao VLA.
Segundo pesquisadores da UFF, o nome língua azul foi atribuído devido a um sinal característico nos animais adoentados, embora raramente se manifeste: a língua apresenta inchaço e torna-se cianótica, de coloração azulada. Outros sintomas que se manifestam são febre alta (entre 41 e 42 graus), lesões nos lábios, salivação e secreção nasal excessivas, vermelhidão (hiperemia) na pele, face inchada e perda de apetite. Em médio prazo, o animal apresenta claudicação e coluna arqueada, e começa a mancar, por causa da dor e da inflamação na coroa do casco. As grandes causas de morte são os edemas pulmonares provocados pela replicação do vírus e as pneumonias bacterianas secundárias.