De acordo com a Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), a maior parte das aves abatidas pela Doux Frangosul é destinada ao exterior, para cerca de cem países. No Rio Grande do Sul, além de Montenegro, a empresa possui uma unidade em Passo Fundo e conta com mais de 2,5 mil criadores integrados.
A notícia anima o setor, que prevê a rápida retomada das atividades industriais, tranquilizando produtores integrados e trabalhadores. Para Francisco Turra, presidente da União Brasileira de Avicultura (Ubabef), a solução não é perfeita, exatamente por não ser definitiva, mas é positiva.
– O fato de não comprar não altera o bom cenário que é a retomada das atividades – destaca Turra.
O diretor executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, pondera que a continuidade da atividade rural torna positiva a solução encontrada.
– Se olharmos o cenário de compras e fusões no setor, acredito que esse seja o primeiro passo para uma futura compra – destaca Santos.
Com o modelo proposto, a JBS não assume as dívidas da empresa, estimadas em R$ 466 milhões, que foram consideradas empecilho para a concretização da compra. Os ativos da Doux no Rio Grande do Sul chegaram a ser avaliados em cerca de R$ 2 bilhões.
Histórico da crise
A crise que atinge os negócios da Doux Frangosul teve início entre 2004 e 2005. No período, a companhia enviava produção para a matriz, na França, mas não recebia o pagamento. No final de 2008 a situação foi agravada por perdas da Doux relacionadas à disparada do dólar e à continuidade da política da controladora, ainda mais debilitada pela crise global.
Com atrasos nos pagamentos, que chegaram a até seis meses no início de 2012, produtores integrados de aves e suínos do Sul do país, principalmente do Rio Grande do Sul, foram os principais prejudicados pela crise na companhia. Eles chegaram a suspender o alojamento de animais até que a empresa cumprisse promessas feitas para pagamentos dos débitos. Segundo levantamento obtido pelo jornal Zero Hora, as dívidas da empresa somariam R$ 466 milhões.
Conforme fontes que acompanham a situação da empresa, para a retomada a pleno dos negócios seriam necessários cerca de R$ 140 milhões – R$ 37,4 milhões para os produtores, R$ 17 milhões para insumos, R$ 34 milhões para ração, R$ 40,8 milhões para transporte e R$ 10,2 milhões para pagar salários.
No início do ano produtores integrados do Rio Grande do Sul realizaram diversas manifestações, pedindo a normalização nos repasses dos pagamentos. Em janeiro, pecuaristas chegaram a pedir a interferência do governo do Estado na negociação. O Ministério Público também chegou a intermediar conversas entre produtores e a empresa.
Em fevereiro, o presidente mundial da companhia, Charles Doux, fez uma visita sigilosa ao Estado na tentativa de buscar uma solução para a crise na empresa. As especulações sobre a venda dos negócios de aves da empresa para o grupo JBS começaram em março. Em abril, a Doux Frangosul suspendeu as atividades no Estado.
JBS
A JBS é o exemplo de uma empresa brasileira que se transformou em multinacional. Foram diversas aquisições nos últimos anos. A empresa começou em 1953 e se transformou numa gigante do setor de carnes. Uma das grandes compras do grupo foi a da Swift Foods, em 2007, em uma operação de US$ 1,4 bilhão.
Em 2009, o JBS adquiriu o grupo Bertin, formando a maior rede de frigoríficos do Brasil. Também em 2009, a companhia passou a controlar a Pilgrims Pride, que era a segunda maior produtora de aves dos Estados Unidos, e se transformou na maior processadora de proteína animal do mundo. Hoje, o grupo JBS conta com 140 unidades de produção no mundo. Só em 2011 a companhia faturou cerca de US$ 40 bilhões.