Grupo JBS domina negócios frigoríficos no Vale do Araguaia, diz Rally da Pecuária

De sete fazendas visitadas pela Equipe 2 entre a divisa de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a Vila Rica, no sul do Pará, todas têm o mesmo compradorA Equipe 2 do Rally da Pecuária afirma que há concentração da indústria frigorífica na região do Vale do Araguaia (que se estende do Alto Taquari - divisa de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a Vila Rica, no sul do Pará). Das sete fazendas que foram visitadas pelo grupo, todas têm como comprador o Grupo JBS. Segundo os profissionais, raras são as propriedades que encaminham seus animais para outros Estados, em função do ônus, como frete e impostos (ICMS interestadual).

Na região, segundo agentes de mercado, a JBS tem quatro unidades em funcionamento (em Confresa, Água Boa, Barra do Garças e Rondonópolis). O Grupo tem, ainda, três fábricas fechadas (Canarana, Nova Xavantina e Vila Rica, esta última a ser reaberta em breve). A Marfrig opera uma unidade em Paranatinga, mas, conforme agentes, a distância é grande e a empresa tem parcerias locais próprias para seu abastecimento de matéria-prima.

De acordo com Marcos da Rosa, proprietário da Fazenda Passo Fundo, de Canarana (MT), e presidente do Sindicato Rural do município, esse monopólio da JBS ocorreu após a série de recuperações judiciais de frigoríficos brasileiros em 2008/2009, auge da crise econômico-financeira mundial. Na região, o Margen e o Arantes pararam de abater e os ativos do Independência estão no processo de finalização de venda para o próprio JBS.

– Estamos defasados entre R$ 2,00 a R$ 3,00 por arroba à vista dos preços de Cuiabá (MT) e de R$ 6,00 a R$ 7,00 por arroba abaixo dos valores do Pará. Aqui, no Vale do Araguaia, o boi gordo é vendido por volta de R$ 81,00, R$ 82,00 por arroba – disse Da Rosa.

Ele mesmo admite que, para tentar sair do monopólio da JBS, vende seus animais para frigoríficos de São Paulo, como o Frigoestrela e Tatuibi.
 
– O Vale do Araguaia é conhecido como Vale dos Esquecidos. Aqui tudo chega depois, reage depois, e isso quando chega. Temos o pior preço do boi gordo do País – reforçou o gerente da Fazenda Sagarana, localizada no município de Água Boa (MT), Carlos Heitor Sabrito Carvalho.

O estabelecimento tem 2,96 mil hectares de área total, dos quais 1,2 mil hectares de pastagem. O rebanho é de 2,45 mil cabeças de gado e vende cerca de 1,5 mil bois por ano. Trabalha com animais da raça brangus – mistura de aberdeen angus e zebu (nelore), criando animais resistentes e de qualidade -, com cria, recria e engorda.

De acordo com o presidente do Sindicato Rural de Água Boa, Laércio Fassoni, todos os pecuaristas do município e das outras praças do Vale do Araguaia estão sendo representados pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato) na conversa com os grandes grupos de proteínas para atraí-los à região. Há intensos rumores de que o Frigorífico Marfrig estaria prestes a abrir uma unidade na região, mas nada confirmado.

Na questão de venda para outros Estados, Fassoni informou que há um pleito antigo dos pecuaristas da região em reduzir o ICMS interestadual dos atuais 7% para 3,5%.

– Está na promessa do governo, mas ainda não saiu. Temos na região uma pecuária bastante tecnificada, o acesso ao crédito melhorou com o programa ABC, do governo federal, mas nos falta liquidez, já que temos um único grupo frigorífico na região – ressaltou.

– A concentração é uma tendência no setor. O que temos de acompanhar e cobrar é uma boa gestão das grandes indústrias – declarou o diretor da Bigma Consultoria, Maurício Palma Nogueira.

Disputa da terra

Além da concentração da indústria com influência no comportamento dos preços pagos ao produtor, os pecuaristas do Vale do Araguaia enfrentam a concorrência por suas terras, que ficam próximas a áreas indígenas. Na Serra do Roncador, área de Floresta Amazônica que se estende desde o município de Barra do Garças (MT) até a Serra do Cachimbo, no Pará, há 300 mil hectares de aldeias indígenas.

Carvalho, da Fazenda Sagarana, acredita que uma saída é ter uma “política de boa vizinhança” com os índios para que as terras não sejam invadidas ou saqueadas.

– Na verdade, os índios xavantes, que estão no Roncador, são índios do cerrado e são abandonados pelo governo e pelas organizações não-governamentais – disse.

Zootecnista de formação, Carvalho já ministrou palestras de cooperativismo e até gradeou áreas para a agricultura de subsistência de índios da aldeia vizinha ao estabelecimento.

Prêmio

– O que nos salva da concentração de venda dos animais a um frigorífico só (Grupo JBS) é o prêmio que recebemos por sermos da Lista Trace.

A afirmação é da responsável pela rastreabilidade dos animais da Fazenda Brasil, do município de Nova Xavantina (MT), Mara dos Reis Xavier de Andrade. A Lista Trace determina os estabelecimentos rurais habilitados a exportar para a União Europeia. A carne abatida, do rebanho total de 10 mil cabeças da fazenda, integra a cota Hilton, que é o volume exportado ao bloco por preços especiais.

Todos os animais da Fazenda Brasil são identificados e seguem as rigorosas regras de rastreabilidade impostas pela União Europeia. A fazenda produz, ainda, animais da raça angus (meio sangue, já que são misturados com nelore), que são vendidos para o grupo Marfrig. O estabelecimento, inclusive, é associado ao Marfrig Club, programa de fidelidade e relacionamento oferecido para pecuaristas do grupo no fomento à produção da carne angus.

– Nessa venda também recebemos um prêmio – disse Mara, também sem revelar qual seria esse porcentual.

A Fazenda Brasil é também modelo de integração pecuária-lavoura-floresta. Tem áreas para soja, milho, feijão e, no caso da floresta, eucalipto. O estabelecimento é do grupo Agropecuária Fazenda Brasil, de empresários do Rio de Janeiro, do setor financeiro que, no total, tem sete fazendas, com rebanho de 49 mil cabeças de gado.

O Rally da Pecuária, organizado pelas consultorias Bigma e Agroconsult, passará por nove Estados brasileiros, percorrendo cerca de 40 mil quilômetros, onde estão concentrados 75% do rebanho e 85% da produção de carne bovina do País. Nessa edição, ocorrerão também encontros com produtores, além dos eventos já programados.