A retomada das compras da China da carne bovina produzida nos Estados Unidos, anunciada nesta semana pelo governo do país asiático, funcionará como um “estímulo” à produção da proteína gourmet no Brasil, na opinião do presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), Antônio Jorge Camardelli. “Não teremos, na minha opinião, um embate comercial, em que um (país) vai tomar o espaço do outro”, disse o representante.
Segundo ele, os EUA são um tradicional fornecedor de carne com maior valor agregado, nicho do qual o Brasil ainda tem pouca produção e participação no mercado global. Sendo assim, o consumo da proteína norte-americana pelos chineses não traz riscos de perda de participação. Ao contrário, pode funcionar como um estímulo para que a produção brasileira avance em busca de melhor rentabilidade. “Precisamos parar de falar de produzir boi e começar a produzir carne”, disse o dirigente.
Nesta semana, a China confirmou que voltará a importar carne bovina dos Estados Unidos, desde que os cortes atendam aos requisitos de qualidade e de inspeção do governo chinês. Ainda não há prazo para que essas exigências sejam divulgadas.
A China tem sido um dos principais compradores da carne brasileira neste ano, tendo adquirido 96,284 mil toneladas, ou US$ 406,395 milhões, entre janeiro e agosto, após a abertura deste mercado em junho de 2015. Apesar do volume significativo, as compras arrefeceram a partir do segundo semestre, por causa da valorização do real e também por questões comerciais. “No processo da nossa curta permanência lá, vimos que precisamos trabalhar mais na área gourmet, com carne ingrediente”, afirmou Camardelli.
Segundo ele, o Brasil está atento a este nicho de mercado, de maior valor agregado, e vem trabalhando para aumentar a produção em toda a cadeia, com a criação de raças europeias (angus, por exemplo) e com frigoríficos adotando programas qualidade de carcaça, com pagamento de prêmios aos pecuaristas.
Para Camardelli, este movimento pode ainda abrir mais espaço para o produto brasileiro também nos Estados Unidos. O representante cita que, apesar de neste primeiro momento os embarques serem basicamente de carne magra para produção de hambúrgueres, a diferença entre a forma de criação de gado no Brasil e nos EUA pode ser um diferencial competitivo.
Nos EUA, mais de 90% do rebanho é criado em confinamentos e alimentado com ração. No Brasil, o gado se desenvolve no pasto e pequena parcela é terminada em cochos. “Quando pudermos entender melhor o mercado (americano), vamos ver que há um grande espaço lá para a carne de valor agregado”, disse.