A recuperação do plantel de suínos da China após a epidemia da peste suína africana, que atinge o país desde agosto de 2018, não será suficiente para o abastecimento doméstico do país até os próximos três anos. A avaliação é do analista de Agronegócio, Alimentos & Bebidas do Itaú BBA, André Hachem. “A dinâmica de exportação de proteínas para a China ainda é muito favorável. A importação de carne bovina e suína pela China deve perdurar por, no mínimo, dois a três anos até a reconstrução do plantel doméstico”, disse o analista em coletiva de imprensa realizada pelo banco na manhã de segunda-feira, 15.
Ele acrescentou que o rebanho de suínos do país está 50% menor que o nível antes da epidemia, levando a uma redução de 20 milhões de toneladas no volume produzido da commodity. Hachem pontuou, ainda, que mesmo com a migração para outras carnes, um terço da proteína animal consumida no país continua sendo de carne suína.
“A produção de outras proteínas registrou aumento expressivo, mas a demanda por carne suína é significativa. Com isso, o governo afrouxou restrições sanitárias e abriu mercados para estimular as importações”, explicou. Segundo o analista, a indústria brasileira de proteínas vai continuar se beneficiando de exportações muito fortes para a Ásia, pelo menos, nos próximos três anos, com a China mantendo importações expressivas.
“Exportações de carnes da América do Sul para a China devem continuar muito fortes em 2021. Nesse cenário, Minerva e Marfrig têm dinâmica favorecida com vendas significativas para a China”, explicou Hachem. O Brasil também deve ser favorecido no mercado global por uma possível menor participação da Austrália, especialmente nas exportações de carnes bovinas, que deve ser menor nos próximos dois a três anos.
“A dinâmica dos próximos três anos ainda refletindo os impactos da peste suína africana é uma janela única para a indústria brasileira de proteína, que sempre enfrentou volatilidade. Ao fim deste ciclo, devemos ter empresas mais sólidas e com menor endividamento”, prevê Hachem. Em compensação, o consumo doméstico de carnes no País ainda apresenta um cenário incerto, de acordo com o analista.
“A conjuntura local pós pandemia do novo coronavírus é desafiadora para o consumo de proteínas. Em caso de forte recessão, podemos ter migração de demanda de carnes de maior valor agregado, como a bovina, para proteínas de menor valor agregado, caso dos frangos. Mas ainda é muito difícil precisar esse cenário”, avaliou Hachem. Ele considerou também que as empresas devem ter dificuldade em repasse de possível alta do custo para os preços do produto final em virtude do cenário de retração econômica.