As importações de produtos lácteos cresceram 76% no Brasil no primeiro trimestre de 2017. Para os produtores, a entrada de grandes volumes de leite no país gera concorrência desleal e prejudica o setor. Já para outros analistas, o problema está na baixa produtividade do rebanho brasileiro.
José Ferreira produz leite há mais de 40 anos e admite que só continua por teimosia. O produtor afirma que, no momento, os preços são bons e o custo de produção cedeu. Mas, na maior parte do tempo, o cenário é bem diferente.
“O custo de produção corresponde entre 85% e 90% do valor do preço que recebemos pelo produto. Agora, quando o preço do leite diminui, trabalhamos no vermelho, que foi o que aconteceu no ano passado”, aponta.
O assessor técnico da Comissão Nacional da Pecuária de Leite da CNA, Thiago Rodrigues, acredita que o custo de produção da atividade é elevado no Brasil. As margens, porém, são parecidas com as de outros países concorrentes, como o Uruguai. A diferença, segundo ele, está no volume de leite produzido por animal.
“A nossa margem é apertada, Se a analisarmos os primeiros meses deste ano, o produtor gastou entre R$ 1 a R$ 1,10 para produzir, mas entre R$ 1,15 a R$ 1,30. Agora, quando a analisamos a produtividade média da vaca brasileira, começamos a sentir a distorção. Temos uma produtividade média de 1,500 mil litros por vaca no ano, muito baixo comparado a média de países desenvolvidos, aponta.
No primeiro trimestre de 2017, o Brasil importou 35 mil toneladas de leite em pó, volume 76% superior em relação ao mesmo período em 2016. O presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Girolando, Luiz Carlos Rodrigues, acredita que a importação é necessária para abastecer o mercado interno, mas deve ser coordenada e fiscalizadas para não gerar concorrência desleal.
“É preciso ver realmente se todo esse leite que entra no Brasil, vindo de Uruguai e Paraguai, é realmente desses países. Se isso for verdade, paro de dizer que é desleal a concorrência, mas ainda continuo dizendo que desse jeito não dá para competir. Com a importação do jeito que está, nós vamos matar o pequeno produtor no Brasil”, critica.
Apesar do aumento nas importações, o presidente admite que o momento é favorável para a atividade. Desde o começo de 2017, o preço do leite subiu quase 3%. Já o custo de produção reduziu 2,6% durante o mesmo período.
“Nós temos condições de fazer um bom trabalho dentro da porteira. É um momento de ganharmos dinheiro com leite, se não conseguir ganhar dinheiro com o leite neste momento, em outro momento vai ser muito difícil”, comenta Rodrigues.
A expectativa é que as importações de lácteos fiquem em patamares elevados. Assim, para não reduzir a margem, é preciso investir na eficiência do rebanho.
“Para ganhar efetividade é preciso ter um rebanho produtivo, e isso se consegue com alimentação e melhoramento genético. O produtor tem que contar com assistência técnica que condicione ele a produzir de forma sustentável economicamente, mas com o técnico presente”, completa Rodrigues.