O preço médio do leite cru captado por laticínios teve uma queda em maio, marcando a primeira redução desde dezembro de 2022, de acordo com pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
A “Média Brasil” líquida do mês ficou em R$ 2,7229/litro, uma queda de 6,2% em relação a abril e 2,2% menor do que em maio de 2022, considerando a deflação pelo IPCA de maio de 2023.
É a primeira vez neste ano que os preços no campo ficam abaixo dos valores do mesmo período do ano anterior, e a alta acumulada desde o início do ano foi limitada a 4,9%.
Essa diminuição dos preços no mês de maio é considerada atípica para o setor, já que historicamente ocorre uma elevação nas cotações nesse período, devido à redução sazonal da produção no Sudeste e no Centro-Oeste.
No entanto, em 2023, as cotações foram influenciadas por três fatores: consumo enfraquecido, aumento de importações e queda nos custos de produção.
O consumo de lácteos permaneceu enfraquecido em maio, devido ao menor poder de compra da população e aos preços ainda mais altos em comparação com o ano anterior.
No estado de São Paulo, os preços do leite UHT, da muçarela e do leite em pó negociados entre indústrias e canais de distribuição estiveram, em média, 11,5%, 8,1% e 8,3% mais altos em 2023 do que em 2022, considerando o período de janeiro a maio.
O aumento das importações de lácteos também teve um papel importante nesse cenário, uma vez que o volume importado está maior do que nos anos anteriores e os preços externos estão mais competitivos do que os preços nacionais.
Isso pressiona as cotações internas ao longo de toda a cadeia produtiva.
Dados da Secex mostram que, em maio, as importações de lácteos aumentaram 42% em relação a abril e 219% em relação a maio de 2022, somando mais de 208,8 litros em equivalente leite.
No período de janeiro a maio deste ano, as importações foram três vezes maiores do que as registradas no mesmo período de 2022.
Essas importações representam aproximadamente 9,1% da captação formal de leite cru, de acordo com dados do IBGE de 2022. No mesmo período do ano anterior, as importações representaram apenas 2,9% da captação nacional.
Custo da pecuária leiteira
Os preços de outras commodities também têm caído, o que impacta nos custos de produção do leite.
Em maio, o custo operacional efetivo (COE) da pecuária leiteira caiu 2,3% na “Média Brasil”, influenciado pela redução nos preços do concentrado.
Isso tem favorecido os produtores, já que em maio foram necessários 25,8 litros de leite para a compra de uma saca de milho, representando uma melhoria de 14,4% no poder de compra em relação ao mês anterior e de 25,9% em comparação com maio de 2022.
Essa situação tem incentivado investimentos na produção e contribuído para a recuperação da oferta de leite, mesmo durante a entressafra.
Captação de leite
Em maio, o Índice de Captação Leiteira do Cepea (ICAP-L) registrou um aumento de 1,5% na “Média Brasil”.
Esse aumento na captação é explicado principalmente pela melhoria nos custos de produção.
Mesmo com o inverno seco no Sudeste e no Centro-Oeste nesta época do ano, a captação industrial, considerando a média dessas regiões, permaneceu praticamente estável de abril para maio, com um leve aumento de 0,3%.
Já na região Sul do país, a captação cresceu em média 2,4% no mesmo período.
A expectativa dos especialistas do setor é que o volume produzido entre maio e julho seja menos afetado pela variação sazonal.
Nesse contexto, a desvalorização do leite no campo segue o movimento de queda que ocorre em toda a cadeia produtiva.
No caso dos lácteos, que têm apresentado desvalorizações desde abril, a pesquisa do Cepea em parceria com a OCB mostra que, em maio, os preços médios do leite UHT, da muçarela e do leite em pó fracionado caíram 3,8%, 0,6% e 3,7%, respectivamente, no atacado paulista.
Em comparação com maio de 2022, os valores ficaram 1,1%, 1,7% e 1,3% mais baixos, respectivamente.
Já a média mensal do preço do leite spot em maio em Minas Gerais teve uma queda de 16,6%, chegando a R$ 2,78/litro.