O preço do leite subiu 21,1% no primeiro semestre de 2019. Segundo a pesquisadora Natália Grigol, do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a alta está diretamente relacionada a uma menor disponibilidade do produto. “As indústrias estão competindo para assegurar a compra de matéria-prima”, diz.
A estudiosa conta que as cotações atingiram os patamares mais altos da série histórica do Cepea, mas destaca que o lucro não é determinado apenas pela receita. “Apesar dos custos estarem controlados, com o mercado de grãos estável, muitos produtores estão endividados. Então, mesmo recebendo mais, muitos estão em uma situação delicada, fechando buracos de anos anteriores”, afirma.
De acordo com Natália Grigol, o produtor ainda está em inseguro para falar sobre investimentos de longo prazo, devido à volatilidade dos preços. “A indústria também não está conseguindo segurar a margem na venda de derivados”, explica.
Normalmente, as cotações atingiram o pico em agosto, que é período de entressafra. Porém, neste ano, o recuo já começou em julho. “É uma atividade muito complexa. Além de bom pecuarista, o produtor precisa ser também um bom administrador”, diz.
A produção de leite no Brasil precisa de ajustes
A pesquisadora classificou a abertura do mercado chinês para o lácteos brasileiros como “a melhor notícia do ano”. “Acredito que é uma oportunidade excelente, mas ainda é isso: uma oportunidade”, ressalta.
Natália diz que o produtor precisa fazer ajustes nos manejos nutricional, sanitário e reprodutivo, e não só pensando nas exportações para a China. “Com isso, ele terá margem maior para passar por momentos difíceis. Ele precisa aumentar a escala e o rendimento por litro de leite”, diz.
Sobre a outra ponta da cadeia, a representante do Cepea destaca que, conforme a qualidade do produtor melhorar, os laticínios também vão precisar aumentar a remuneração. “Não temos espaço para relações oportunistas na atividade. Os dois precisam caminhar juntos”, finaliza.