Uma pesquisa coordenada pela Embrapa investigou alimentos e bebidas consumidos pelos brasileiros e calculou quanto custa atender 30% das necessidades diárias de oito nutrientes: proteína, cálcio, ferro, fibras e vitaminas A, C, D e E.
Segundo a pesquisadora Kennya Siqueira, que conduziu os trabalhos, o leite integral pode suprir 30% das necessidades de cálcio de um adulto saudável ao custo de apenas R$ 0,97. Para obter a mesma quantidade do nutriente com outros alimentos, como o café ou o caju, o custo subiria para pelo menos R$ 1 mil.
Produtos derivados do leite também ocuparam as primeiras posições no ranking de custo da vitamina D e obtiveram boa colocação no ranking de proteína e vitamina A. O custo para se adquirir 30% de qualquer uma destas duas vitaminas através de produtos lácteos é de menos de R$ 2.
Já a proteína, o leite de vaca perdeu apenas para as carnes, amendoim moído e ovo de galinha. Dos oito nutrientes analisados, os lácteos apresentaram custo competitivo para quatro deles: proteína, cálcio e vitaminas A e D. “Além de reforçar a importância do leite e seus derivados na alimentação humana, o estudo mostra que consumir produtos lácteos faz bem não apenas para a saúde, mas também para o bolso do consumidor”, conclui Kennya.
Como foi feito o estudo
O estudo utilizou como base de dados a tabela nutricional e os produtos presentes na Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ao todo foram investigados 443 alimentos e bebidas, dos quais 43 eram produtos lácteos. Para minimizar os efeitos da sazonalidade e da inflação, a coleta de preços foi efetuada em abril e outubro de 2016. Foram coletados os menores preços de todos os produtos, sem considerar preços promocionais, em 16 supermercados virtuais de dez estados da federação.
Os nutrientes selecionados foram baseados na definição de alimento saudável da agência americana Food and Drug Administration e nas deficiências nutricionais da população brasileira, segundo o IBGE. Foi considerado o atendimento de 30% das recomendações nutricionais diárias de um adulto saudável. Com base no resultado obtido, os produtos foram ranqueados do menor para o maior preço.
Leite de vaca não faz mal à saúde?
Nos últimos anos, surgiram movimentos contrários ao leite na alimentação, alguns deles ligados ao ativismo vegano, que recomenda a exclusão de qualquer alimento de origem animal da dieta. O principal argumento é de que o ser humano é o único mamífero que continua a beber leite após o período da amamentação. A professora da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Mirella Binoti, argumenta que não há qualquer problema no consumo de leite na fase adulta, a menos que a pessoa apresente intolerância à lactose ou alergia a alguma de suas proteínas. Do contrário, o leite só traz benefícios à saúde.
Outra informação que durou mais de 50 anos associava o leite ao aumento de doenças cardiovasculares. Ainda hoje, existem órgãos de saúde pública por todo o mundo dizendo que a ingestão de gordura de origem animal, as chamadas gorduras saturadas, deve ser evitada. O argumento é que as gorduras saturadas aumentavam o colesterol ruim (LDL), associado ao derrame e ao infarto. Mas, nas duas últimas décadas, isso tem sido fortemente questionado por alguns cientistas.
Segundo o pesquisador da Embrapa Marco Gama, estudos científicos têm mostrado que, embora a gordura saturada promova aumento do colesterol, não há evidências de que a ingestão da gordura do leite aumente o risco de doenças cardiovasculares. “Nem toda a gordura saturada é igual”, afirma Gama. “Existem gorduras que elevam o LDL, mas outras promovem um aumento do HDL, que é um tipo de colesterol benéfico à saúde”, explica. Além disso, sabe-se atualmente que o colesterol LDL se divide em dois tipos de partículas: grandes e pequenas. As partículas grandes, que não estão associadas a riscos cardiovasculares, são as aumentadas pelas gorduras saturadas.
O leite de ruminantes (vacas, búfalas, cabras etc.) possui ainda alguns componentes que não são encontrados em quantidades significantes em outras fontes de gordura. É o caso do Ácido Linoleico Conjugado (CLA). Pesquisas com animais e culturas de células demonstraram que o CLA protege o organismo contra alguns tipos de câncer, além de ter ação anti-inflamatória. Para fechar o quadro de benefícios do leite, há evidências científicas de que a gordura do leite reduz o risco de obesidade, do diabetes do tipo 2 e da síndrome metabólica (HDL baixo; triglicérides altos; glicemia alta em jejum; sobrepeso e pressão arterial alta). Mesmo diante de tantos benefícios, Mirella alerta que nenhum alimento, sozinho, é capaz de suprir todas as exigências do organismo. Uma dieta variada, com boas fontes de gorduras e proteína, frutas, verduras e legumes é insubstituível.