Leite

Levantamento aponta mudança no perfil das propriedades leiteiras do país

O momento é de alerta para o produtor, avalia pesquisador do Cepea

O perfil produtivo das propriedades leiteiras no Brasil mudou nos últimos dois anos, com destaque para a migração do semiconfinamento para sistemas em que há confinamento total das vacas. É o que aponta um levantamento do Projeto Campo futuro, feito a partir da parceria do entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Pesquisador da área de custos de leite do Cepea, Caio Augusto Monteiro deu detalhes do levantamento ao ser entrevistado pelo Canal Rural. Ao vivo, ele falou sobre o trabalho relacionado à produção de leite no país durante a edição desta segunda-feira (18) do ‘Mercado & Companhia’. O telejornal é apresentado por Pryscilla Paiva.

Mudanças nas propriedades leiteiras

caio augusto monteiro - cepea - propriedades leiteiras
Caio Augusto Monteiro explicou o que está mudando em propriedades leiteiras do Brasil | Foto: Reprodução/Canal Rural

Leia, abaixo, os principais pontos da entrevista com Caio Augusto Monteiro, pesquisador do Cepea.

1 — O que os dados desse levantamento mostram em relação ao ganho de competitividade da atividade leiteira? Considerando que os últimos dois anos foram de alta expressiva dos custos de produção.

A gente observa uma migração desse sistema, buscando o aumento de produtividade. Observamos essa mudança no perfil produtivo principalmente nas regiões que já existiam um bom nível produtivo. Regiões que já vinham investindo em tecnologia ao longo dos anos e que optaram por essa intensificação total na mudança do sistema [de produção de leite].

2 — Sabemos que a migração do sistema de produção é um movimento natural, mas qual é o impacto do custo do ponto de vista do investimento do produtor?

Os produtores que optam por essa migração têm que estar cientes de que haverá aumento de demanda de capital, sobretudo para a produção, que é mais intensiva. E também terá o investimento que precisará ser feito pelo produtor em relação às infraestruturas, como os galpões onde os animais são alojados, por exemplo.

3 — Na sua avaliação, quais são os principais desafios de trocar o semiconfinamento pelo confinamento total?

A intensificação desse sistema demanda maiores habilidades gerenciais dos produtores e das equipes que trabalham com eles. E falando especificamente do composto, que foi a opção que a gente observou que foi feita pelo produtor: o manejo desse novo ambiente onde as vacas estão instaladas. Existe a adição dessa cama de compostagem, e isso requer uma curva de aprendizagem para se conseguir obter os resultados necessários para ter essa cama estável e compatível com um sistema equilibrado.

4 — Neste sentido, quais são as metas que garantem o sucesso na atividade?

Principalmente, as metas relativas à gestão. E aí, a gente fala de um “olhar 360” dentro dessa propriedade. Desde a parte de reprodução à parte de alimentação, ambiência e o período de transição [do sistema de produção de leite]. Com a realização desse investimento, também falamos do planejamento financeiro. Todos esses itens demandam metas claras e que almejam ganho de produtividade.

5 — Temos visto um certo alívio nos custos de produção. Essa é uma tendência que deve se manter nos próximos meses?

O que a gente tem observado é uma redução de alguns preços relativos à alimentação. As cotações do milho caíram um pouco, os fertilizantes nitrogenados também começaram a ceder em algumas regiões, com a queda do petróleo. O cenário, provavelmente, deve se manter com um alto custo de produção durante o ano de 2022, mas com alguns sinais de arrefecimento. O momento é, ainda, de alerta. O produtor precisa continuar tocando tudo na ponta do lápis para não ter nenhuma surpresa.