A ministra da Agricultura, Kátia Abreu, informou nesta quarta, dia 8, via Twitter, que fechou um acordo com a Rússia que habilita 11 empresas lácteas a exportar para o país. Segundo a ministra, o Brasil fornecerá leite em pó, queijos e manteiga a consumidores russos. O acordo era negociado desde fevereiro.
Por meio do microblog, a ministra afirmou que também tenta emplacar com o governo russo um pre-listing de indústrias que poderão exportar lácteos e carnes bovina, suína e de aves a partir de uma autorização prévia. A medida permite que os embarques ocorram mesmo sem inspeção.
– Faremos reuniões com importadores de carnes do Brasil. Será oferecido um churrasco a eles por nossas entidades. A melhor carne do mundo – disse a ministra.
Kátia Abreu disse ainda que sua comitiva fará uma visita à cadeia de distribuição de carnes na Rússia, mas que a prioridade é a venda de lácteos.
– É uma prioridade, pois a nossa produção cresce 5% ao ano e o consumo, 3% – explicou, acrescentando que o país poderá absorver cerca de US$ 600 milhões em demanda de leite em pó na Rússia em até dois anos.
A ministra relatou que o Brasil tem 5,18 milhões de propriedades rurais e que, desse total, 1,2 milhão produzem leite e 800 mil comercializam o produto. A maioria dos produtores desse setor, segundo a ministra, é de pequeno porte.
– É uma atividade econômica importante. Aumentar nossas importações pode melhorar a renda deles – observou.
Ela disse que não deve encontrar a presidente Dilma Rousseff, que também está em viagem à Rússia. Kátia Abreu está em Moscou e a presidente em uma cidade a mais de 1 mil quilômetros de distância. Ela também falou da importância de abrir mercados.
– Abrir mercado é fundamental para o Brasil. Temos de trabalhar duro nesta direção, ser agressivos nos acordos comerciais. Somos competitivos – disse.
Repercussão
Representantes de empresas lácteas esperam que o Brasil possa abocanhar, no médio prazo, metade do mercado russo. A Rússia importa 650 mil toneladas de leite em pó por ano de outros países, o equivalente a US$ 1,2 bilhão. Nesta quarta, dia 8, 11 empresas brasileiras foram autorizadas a vender leite para o país e outras 11 aguardam autorização. O Brasil exporta 1% da produção nacional de leite em pó. Em 2014, foram vendidos 37 bilhões de litros.
Para o diretor executivo da Viva Lácteos, Marcelo Costa Martins, a “superação da burocracia” e a credibilidade do sistema de defesa do Brasil foram “essenciais” para a conquista do setor.
– Sem nenhuma dúvida, é uma conquista para o setor. O importante agora é que as empresas habilitadas iniciem seus processos de exportação. Com a abertura para o leite em pó, conseguiremos inclusive alavancar a venda de outros produtos, como queijo e manteiga – disse ele.
Dentro do acordo de pre-listing que o ministério tenta fechar em Moscou, está também a exportação de tripas. Em contrapartida, o Brasil concluiu as análises para liberar a importação de pescado e de trigo da Rússia.
– Atualmente compramos trigo de países que não têm comércio intenso com o Brasil, como o Canadá. Vamos mudar isso e priorizar os mercados que nos oferecem reciprocidade, como é o caso da Rússia, um dos principais destinos de carnes bovina, suína e de aves – afirmou a ministra Kátia Abreu. Ela fica na Rússia até sábado.
Competitividade
“Nosso leite tem competitividade, as nossas empresas estão preparadas, acredito que em dois ou três anos absorvemos boa parte disso tudo [demanda por leite]. É o exemplo dos Estados Unidos. Lá existe uma cota de carne bovina, mas que nós também vamos absorver rapidamente como único país, por da nossa competitividade.”
Primeira exportação por pre-listing
“Na verdade, as empresas que nós aprovamos hoje para exportar não foram no sistema de pre-listing, nós limpamos a pauta. Se novas empresas aparecerem no ministério solicitando, aí será sobre a modalidade de pre-listing. Ao todo, temos 22 empresas, 12 empresas já estavam autorizadas para exportar queijo, por exemplo, mas não estavam fazendo. Leite não estava sendo exportando. Essas antigas continuam habilitadas para exportar os três produtos, e nós limpamos a pauta porque tinham 11 [empresas] aguardando liberação no ministério. Serão 22 empresas que poderão participar do mercado russo. De agora em diante, se aparecerem mais empresas, aí sim, aperfeiçoando e melhorando o sistema de pre-listing, que eles irão autorizar sem precisar vistoriar uma por uma. Esse é o sistema de pre-listing. A autorização automática feita a partir de uma lista enviada pelo próprio país, como o Brasil. Isso significa que nós estamos mandando nome de empresas que confiamos, que nós vistoriamos e que estão aptas a exportar, e eles confiam no nosso sistema de defesa e autorizam automaticamente e deixam para vistoriar depois.”
Redução do tempo para liberação de plantas
“Difícil de medir porque a visita prévia in loco depende da agenda do país. Tem visita que demora dois, três anos, seis meses, um ano. Depende do interesse do país. Vai abrindo a conta gotas. Isso para nós é o pior dos mundos. Nós queremos com a Rússia avançar para o sistema de pre-listing para todas as carnes, queremos que o sistema de origem animal chegue todo no prelisting.”
Empresas
“[Ficam] principalmente no Sul e Sudeste do país, muito variadas, coisa curiosa. Há concentração na área de carne, mas na de leite [não]…Foi até observado pelo ministro da Agricultura hoje, na reunião, que eles gostariam que a área de carne fosse à semelhança do leite, que mais empresas de nível médio pudessem ser habilitadas pelo o Brasil. Eles gostam da diversificação de empresas e o leite tem esse fator muito positivo.”
Exportação de carne
Já exportamos carnes para a Rússia: bovinos aves e suínos. O que esperamos é fluir tranquilamente e que as oscilações não ocorram, isso foi dito ao ministro. Empresas vão investir, vão gastar dinheiro para adaptar suas plantas à exigência russa e isso não pode ser vai e volta, habilita e para. Pedimos solidez e regularidade, para que as empresas, de fato, continuem aprimorando seu sistema para exportação. Na área de carnes, já exportamos volume muito grande, esperamos melhorar performance em suínos e que as próximas plantas, próximos pedidos, que a gente vá aprovando em sistema de pre-listing.”
Embargo
“[Em] detalhes não entramos, mas equipes estão trabalhando. Mas o importante é que assistimos sinalização muito positiva por parte da equipe técnica deles, que sempre tratou com rigidez e dureza. Encontramos uma equipe mais maleável, dócil e confiante no Brasil. Gostaria de analisar do ponto de vista geral que as coisas estão indo muito bem e que daqui a diante só tendem a melhorar. A reclamação na área de carnes no Brasil é sempre a oscilação, vai e volta. Se pegar as exportações das três carnes, o gráfico é cheio de idas e vindas, vamos trabalhar para que isso não ocorra. Mas também tínhamos parado no ministério um pedido deles para exportar pescado e trigo, e não tinha dado sinalização e muito menos a visita técnica local. Já está tudo pronto para autorizar o trigo deles, quero lembrar que já importamos metade do trigo que consumimos, é um mercado tranquilo. Por que comprar de outros países e deixar de comprar de países que compram muito do Brasil? Vamos priorizar a reciprocidade.”
Importação de trigo
Próximas semanas já teremos tudo liquidado e finalizado. Não só trigo, o pescado também. Do ponto de vista interno, sabemos que temos um produto sensível, produzido no Rio Grande do Sul e Paraná, e não vamos permitir que a importação venha diminuir ainda mais a produção de trigo no país. Já fomos praticamente autossustentáveis. Vamos monitorar tudo isso.”
Reclamação na OMC contra UE
“Não tratamos aqui na Rússia, não é uma demanda daqui, nem do Japão, onde tratamos de uma taxa exorbitante com relação as exportações de suínos, que é uma medida protecionista. E ainda existe taxa 2% mais cara do que o suco de laranja importado de Israel. E Brasil e Israel não têm acordo de comércio com o Japão, então estamos pedindo o mesmo tratamento. Mas com relação à Rússia, não houve demanda do setor privado com relação a essas taxas e impostos.”
Missão do Japão no Brasil
“Essa é uma outra demanda que eu própria pedi a eles, que nos ajudassem numa cooperação a fazer com que o Inmet, grande instituto, considerado no mundo todo como instituição de eficiência, mas que por ter maior agricultura tropical do planeta não pode se contentar em ser um segundo nível de especialidade, esteja entre os 10 melhores do mundo. Isso não é para fazer nenhum tipo de exibicionismo. Uma agricultura tropical precisa de ferramentas muito precisas de análises para informar os produtores e o próprio governo das políticas públicas, inclusive como um instrumento para o seguro agrícola. Pedimos para fazer uma análise do que o Inmet é hoje e quais os investimentos necessários para que sejamos o top do mundo.”
Investimento ferrovias
“Com relação à Rússia, não detectamos o interesse. Está muito mais na Ásia, Japão, China, Cingapura. Fizemos trabalho forte no Japão, que demonstrou grande interesse. O primeiro ministro criou grupo de especialistas e ministros só para tratar de exportação de serviços de logística do Japão. Estão muito interessados, não só as empresas de construção, mas tradings japonesas que são grandes no Brasil, como Mitsui, Mitsubish, que estão todas na área de grãos, que poderão vislumbrar uma parceria dessas empresas construtoras japonesas com empresas brasileiras. Senti bastante otimismo.”