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Operação Leite Compen$ado cumpre mandados de prisão no RS

Segundo as investigações, foi descoberto crime organizado na comercialização de produto lácteo impróprio para consumo humano

Fonte: Ministério Público-RS/divulgação

Foi deflagrada na manhã desta terça-feira, no Rio Grande do Sul, mais uma etapa da Operação Leite Compen$ado, que investiga a adulteração de leites e derivados. Esta é a 12ª etapa da ação, que desta vez foi concentrada nas cidades de Nova Araçá, Casca, Marau, Estrela e Travesseiro. Até a tarde desta terça, pelo menos quatro pessoas haviam sido presas, conforme informou o Ministério Público do Rio Grande do Sul.

Foram presos Claudionor Mognon e Henrique Alessi Pasini, que são funcionários da Laticínios Modena (nome fantasia Bonilé), bem como Eduardo Grave, proprietário da Indústria de Laticínios Rancho Belo, e o transportador Evandro Luis Kafer. Flávio Mezzomo, da Laticínios Princesul, foi orientado a não se apresentar ao MP e é considerado foragido.

Também foram realizadas buscas nas três indústrias, nas cidades de Nova Araçá, Casca e Travesseiro. A planta da Rancho Belo (que fabrica leite UHT integral envazado pela marca dos supermercados Dia%, além de leite, queijo e creme de leite da marca Rancho Belo) teve as atividades suspensas pela Fepam em virtude de irregularidades na Licença de Operação e inadequação de descarte de resíduos, entre outros.

A previsão é que mais de 40 pessoas deem depoimento até o final da semana que vem, quando o MP deve apresentar a denúncia à Justiça da Comarca de Arroio do Meio.

O chefe do serviço de inspeção do Mapa, Leonardo Isolan, informou que será feita a rastreabilidade para indicar se há ou não problemas com o leite da marca Dia% e, assim que forem obtidos os resultados, as ações cabíveis serão adotadas. “Creme de leite e creme de soro são matérias primas para a elaboração dos produtos finais, o que significa que as ações estão cada vez mais preventivas; já que o índice de conformidade no produto final é de 99%”, apontou.

Esta etapa da Operação Leite Compen$ado é realizada pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado – Gaeco Segurança Alimentar, através dos promotores de Justiça Mauro Rockenbach e Alcindo Luz Bastos da Silva Filho, com participação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Receita Estadual e Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).

Crimes

Segundo as investigações, foi descoberto crime organizado e de comercialização de produto lácteo impróprio para consumo humano, seja pela nocividade o pela redução do valor nutricional, envolvendo as empresas investigadas. Dois dos alvos de prisão preventiva já haviam sido denunciados em outras operações do Ministério Público por sonegação fiscal milionária.

Na prática, segundo o MP, os três laticínios recebem e repassam entre si leite cru, creme de leite e soro de creme fora dos padrões previstos pela legislação brasileira. Muitas das cargas chegam a ser refugadas por outras empresas e acabam sendo comercializadas para estas indústrias. Alguns elementos da investigação apontam que carregamentos de leite que só poderia ter como destino a alimentação de animais foram usados para a industrialização de produtos de consumo humano.

 “Uma organização criminosa se instalou na região para fraudar o produto, especialmente na recuperação de leite já impróprio para consumo”, afirmou o promotor de Justiça Mauro Rockenbach. Por sua vez, o promotor Alcindo Bastos informou que, na Princesul, foram localizadas cinco toneladas de queijo que haviam sido devolvidos por um laticínio de Maceió. “Os queijos estavam vencidos, impróprios, totalmente sem padrão, e a devolução de produto era algo comum, já que a própria rede Dia% devolveu muitas cargas em virtude de problemas com embalagem ou azedos, mesmo dentro da validade”, disse.

Em mais de dez Certificados Técnicos de Análise emitidos pelo Mapa realizados em leite cru, leite UHT e nata, o Lanagro detectou índices fora dos padrões. Conforme as investigações, os sócios-proprietários das empresas ordenavam a adição desses produtos para corrigir a acidez e eliminar micro-organismos, no intuito de “rejuvenescer” o produto já vencido, impróprio para o consumo.

No caso da água, ela era adicionada para que o creme de leite duro, já amanteigado, fosse novamente amolecido e misturado a outras cargas em condições melhores. Os laudos realizados pelas próprias empresas eram mascarados, para que tanto a fiscalização quanto os compradores não visualizassem os problemas.

Sindicato

O Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) se manifestou sobre a operação na tarde desta terça-feira. Por meio de nota, o sindicato disse que “repudia qualquer tipo de adulteração no leite e defende, assim como seus associados, uma postura ética e respeitosa perante os consumidores”.  

A entidade disse ainda que apoia a operação e recomenda aos consumidores que “continuem buscando marcas de sua confiança”. 

“A ação de supostos malfeitores no setor, além de por em risco a saúde dos consumidores, impõe uma concorrência desleal ao mercado e às centenas de laticínios que atuam com alto rigor e controle de qualidade, comprometidos com a sanidade e integridade dos alimentos que fabricam”, disse.

Por fim, o sindicato informou que defende medidas que evitem que cargas rejeitadas por uma empresa possam chegar a outras. 

Outro lado

O Canal Rural tentou entrar em contato com as empresas. A Modena afirmou que o departamento jurídico está cuidando do assunto, já as empresas Rancho Belo e Pricesul não atenderam às ligações.

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