O preço do leite pago ao produtor em abril, referente ao volume captado em março, registrou alta de 0,97% frente ao mês anterior, chegando a R$ 1,4515 por litro na “média Brasil” líquida. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, como o valor pago ao produtor é formado depois das negociações quinzenais do leite spot (comercialização de leite cru entre indústrias) e das vendas de derivados lácteos, as cotações no campo de abril refletem o cenário de março e, por isso, ainda não foram fortemente influenciadas pela crise do coronavírus – que começou a ganhar força na segunda quinzena de março no Brasil.
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Assim, a manutenção do preço no campo em patamares elevados esteve atrelada à concorrência entre laticínios para garantir a compra de matéria-prima em março, já que a oferta de leite no campo seguiu limitada.
Captação de leite
O índice de captação leiteira registrou nova queda de fevereiro para março, de 4,3% na “média Brasil” e acumula baixa de 11,5% neste ano. O recuo em março se deve ao clima menos favorável à atividade, com destaque para a estiagem no Sul do país.
Por conta da diminuição na oferta no campo, o leite spot (negociado entre indústrias) registrou alta nas duas quinzenas de março. Em Minas Gerais, por exemplo, a média foi 5% superior à de fevereiro.
Quanto ao consumo de lácteos, os impactos do coronavírus começaram a ser observados a partir de 17 de março, quando a pesquisa diária do Cepea registrou choque de demanda para o leite UHT. Redes atacadistas e varejistas intensificaram a procura pelo derivado, diante da forte demanda de clientes, que queriam fazer estoques por conta das recomendações de isolamento, em decorrência da pandemia de coronavírus. Com a menor disponibilidade do produto, o preço médio do UHT registrou forte alta acumulada de 24,8% no mês. A média mensal de março, de R$ 2,66 o litro, ficou 11,4% acima da registrada em fevereiro, em termos reais (deflacionado pelo IPCA de março/20).
Por outro lado, com fechamento de redes de serviço e alimentação, o consumo de lácteos refrigerados, como queijos, foi muito prejudicado. A pesquisa diária do Cepea mostrou que o preço médio da muçarela recebido pelas indústrias em negociações no estado de São Paulo teve queda acumulada de 0,97% em março. Porém, na comparação entre as médias mensais de fevereiro e março, houve alta de 1%, com o preço chegando a R$ 19,12 o quilo.
Maio
As dificuldades no escoamento de queijos levaram ao aumento do volume de leite disponível no mercado spot em abril. Em Minas Gerais, o preço médio do leite spot caiu 7,3% na primeira e 11,7% na segunda quinzenas de abril, respectivamente.
Ao mesmo tempo, a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores e a redução da renda de muitas famílias impactaram negativamente o consumo de diversos derivados.
A pesquisa diária do Cepea mostrou que de 1º a 29 de abril, os preços médios do UHT e da muçarela registraram quedas acumuladas de 15,8% e de 8,5%, respectivamente. A elevada incerteza da atual conjuntura tem impactado a decisão dos agentes em recompor estoques, dado o contexto em que não há boas perspectivas para o consumo de longo prazo, devido à diminuição da renda da população.
Tendência
O Cepea afirma que as negociações em queda dos derivados e do spot no correr de abril, por sua vez, indicam um cenário ruim para o preço do leite que foi captado em abril e que será pago em maio.
“É preciso considerar, contudo, que a queda na receita dos produtores num momento de alta nos custos de produção e próximo ao período típico de entressafra pode refletir em aumento do abate de fêmeas e na saída de produtores da atividade leiteira”, disse a entidade.