Depois de registrar altas entre dezembro e abril de 2020, o preço do leite pago ao produtor despencou em maio. Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), a ‘média Brasil’ líquida em maio (referente à captação de abril) chegou a R$ 1,3783 por litro, recuo de 5% frente ao mês anterior. Na comparação com maio do ano passado, a queda foi de 11,2% em termos reais, ou seja, descontada a inflação.
Segundo o Cepea, a desvalorização do leite no campo aconteceu por conta das incertezas no mercado de derivados em abril, decorrentes da crise por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). O centro de estudos explica que os serviços de alimentação (importantes canais de distribuição de lácteos) foi prejudicado pelo agravamento da pandemia.
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Além disso, também houve a diminuição da frequência das compras por parte dos consumidores, diante da redução da renda de muitas famílias. “Abril marcou o primeiro mês completo de enfrentamento à pandemia e de, consequentemente, uma nova dinâmica de consumo da população”, disse o Cepea em boletim. Segundo agentes consultados, esses fatores impactaram negativamente sobre a demanda de derivados no correr de abril.
Leite UHT
De acordo com a pesquisa diária do Cepea, o preço do leite UHT (longa vida) registrou queda acumulada de 17,8% em abril. Ainda assim, a média mensal, de R$ 2,87 o litro, ficou 8,41% acima da registrada em março, quando foi verificado o choque de demanda no início do isolamento social.
Muçarela
O mercado de queijo muçarela também foi afetado pelas incertezas do cenário atual, registrando demanda enfraquecida e volume reduzido de negociações. Esse derivado apresentou desvalorização acumulada de 8,3% em abril, e o preço médio mensal fechou a R$ 17,93 por quilo, recuo de 5,97% em relação ao de março.
“A dificuldade em se assegurar a liquidez impactou negativamente na produção deste lácteo em abril. Como consequência, houve aumento da oferta de leite cru no mercado spot (negociação entre indústrias) em abril. Em Minas Gerais, o preço médio do leite cru caiu 7,3% na primeira quinzena de abril e 11,7% na segunda”, diz o Cepea.
Captação de leite
A entressafra da produção leiteira avança no Sudeste e Centro-Oeste. No Sul, a estiagem prejudica a atividade e compromete a quantidade e a qualidade da produção de silagem para os próximos meses. O Índice de Captação Leiteira do Cepea registrou queda de 0,6% de março para abril na ‘média Brasil’ e acumula baixa de 12,4% neste ano.
Tipicamente, neste cenário, as indústrias empenhariam esforços para recompor seus estoques. Contudo, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos aumentaram o nível de incerteza em abril e diminuíram o investimento das indústrias em estoques, pressionando as cotações no campo em maio.
Tendência de preços
O Cepea explica que como o preço do leite ao produtor é formado depois das negociações quinzenais do leite spot (negociação de leite cru entre indústrias) e das vendas de lácteos, as cotações no campo de junho refletirão o mercado de derivados de maio.
Durante este mês, o observado é que a produção de leite no campo diminuiu. Como consequência, pesquisas apontam que o preço médio mensal do leite spot em Minas Gerais em maio foi 6,7% maior que o de abril, em termos nominais.
“A menor oferta no campo em maio e a menor produção de derivados em abril, por sua vez, reduziram os estoques de UHT e muçarela neste mês, favorecendo o aumento das cotações”, diz.
De 4 a 27 de maio, a pesquisa diária do Cepea mostrou alta acumulada de 14,4% para as cotações de UHT e elevação de 15,7% para as de muçarela. Ainda assim, as médias mensais parciais dos preços do UHT e da muçarela neste período, de R$ 2,68 por litro e de R$ 17,90 o quilo, são 6,62% e 0,1% menores que as respectivas médias de abril.