As raças que o coordenador de vendas Lucas Heymeyer administra na fazenda no interior de São Paulo são destinadas à produção de carne no Brasil. Dorper e White Dorper têm características de rusticidade, bom ganho de peso e podem ser abatidas precocemente, em no máximo quatro meses.
? Antigamente, a gente abatia animais muito mais tardios, então o gosto da carne ficava muito mais forte e não era bem aceita para o mercado do Sudeste. Hoje nós abatemos animais muito mais precoces com 90 a 150 dias, entre 30 e 40 quilos de peso vivo ? explica o coordenador de vendas.
Existem pelo menos cinco raças para corte na ovinocultura no Brasil. É um mercado que cresce mais ou menos 25% ao ano em consumo. Cada brasileiro come em média 700 gramas de carne de ovelha por ano, o que não é pouco, já que a produção não dá conta. Apenas em São Paulo, para atender a demanda, seria necessário criar dois milhões de animais como estes, o que corresponde a três vezes mais do que todo o plantel da região Sudeste do Brasil.
Os criadores admitem que falta matrizes e organização do setor. Lucas Heymeyer faz até uma comparação com outros segmentos de carne:
? No caso do bovino, o produtor faz a estação de monta e acerta quando quer os bezerros nascidos, porque sabe que tem melhores preços. No caso do suíno, ele tem as estações prontas e tal. Mas já no caso dos ovinos, a gente ainda não tem esta preparação do produtor ? avalia Heymeyer.
O reflexo é em um outro ponto da cadeia: o da indústria. Falta carne para o empresário Robson Leite ? que tem um frigorífico em São Paulo ? entregar aos clientes. Ele processa 120 toneladas por mês, sendo que a metade vem de fora.
? A oferta do produto é muito pequena ainda, é muito precária. De dois anos para cá, optamos por começar a importar carne do Uruguai, da Argentina e do Chile para poder atender este mercado, principalmente o mercado de churrascaria ? diz o empresário.
Robson importa 60% da carne que é processada no frigorífico. De toda a carne de ovelha consumida no Brasil, 80% vem dos vizinhos, principalmente o Uruguai, país que tem um rebanho menor que o brasileiro. As 12 milhões de cabeças que chegam de lá tem destino comercial. Já do rebanho do Brasil, que chega a 17 milhões de animais, a maioria é usada pra subsistência. A demanda pode mudar esta situação.
? Você nota que o consumidor que experimentou em uma churrascaria ou mesmo na alta gastronomia hoje vai buscar o seu produto no mercado para poder fazer em casa, para os amigos, em um jantar especial ou até mesmo em um churrasco do fim de semana ? conclui Robson Leite.