Fiscais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) recolheram nesta quarta, dia 21, em um supermercado de Brasília, amostras de produtos de um dos três frigoríficos interditados após a deflagração da Operação Carne Fraca. As amostras serão analisadas em um dos laboratórios oficiais do ministério para averiguar se os produtos atendem às exigências sanitárias.
Segundo o ministro Blairo Maggi, que acompanhou os fiscais durante a inspeção, a iniciativa é preventiva e rotineira. “Estamos verificando os produtos de três marcas cuja comercialização foi restringida”. Os três frigoríficos interditados pertencem às empresas BRF e Peccin. Na unidade da BRF de Mineiros (GO), é feito o abate de frangos. Já nas plantas de Peccin em Jaraguá do Sul e em Curitiba (PR) são produzidos embutidos (mortadela e salsicha).
De acordo com Maggi, as amostras de produtos das três empresas obrigadas a suspender a produção serão recolhidas em várias cidades, mas os alimentos continuarão sendo comercializados até a divulgação dos resultados da análise laboratorial, o que deve demorar até cinco dias. “Estamos indo a campo em várias cidades para dar tranquilidade à população. Nosso negócio agora é demonstrar que a situação está alinhada com o que todo mundo espera.”
Durante o tempo em que esteve no supermercado, Maggi conversou com consumidores e garantiu que as suspeitas levantadas pelas PF são fruto de uma “comunicação errada”. “Papelão na carne; ácidos que não podem ser usados; cabeça [de porco], garantimos que nada disso existe”, afirmou o ministro.
No entanto, para a servidora pública Eilany Maria, uma das consumidoras a quem o ministro procurou tranquilizar, as notícias são preocupantes. “A gente agora vê um pedaço de carne e pensa se deve ou não comer. Pelo que tenho acompanhado, as denúncias não são mentirosas, há problemas, mas as falhas talvez não sejam da dimensão inicialmente anunciada pela Polícia Federal. A questão é que esse alvoroço todo é porque a questão vai além do nosso consumo. A economia brasileira pode ter um colapso por causa disso, do impacto nas exportações. O que, de certa forma, me tranquiliza: o público externo está atento, e é preciso demonstrar para eles que aqui dentro também está tudo bem.”
Aos jornalistas, Maggi voltou a defender a eficácia do Sistema de Inspeção Federal (SIF), responsável por assegurar a qualidade de produtos de origem animal comestíveis e não comestíveis, destinados ao mercado interno e externo, bem como de produtos importados. “Na investigação da Polícia Federal, há um único laudo de produto adulterado. Não podemos olhar para todas as marcas e condená-las. É preciso [ter] o cuidado de verificar se os seus produtos estão em conformidade com aquilo a que se propõem”, acrescentou Maggi.
Além das três empresas cuja produção foi paralisada, 18 frigoríficos sob suspeita continuam funcionando normalmente, embora estejam temporariamente proibidos de exportar seus produtos. O “autoembargo”, conforme classificou o ministro, é uma forma de impedir que a desconfiança do mercado externo afete todo o setor e atinja as exportações de proteína animal como um todo.
“Os países que comercializam com o Brasil podem ficar tranquilos, pois não receberão produtos (provenientes) dessas empresas enquanto não concluirmos uma investigação profunda e voltarmos a liberar as exportações. Podemos garantir que os processos estão corretos e que, se há desvios, eles são pontuais, e estamos prontos para fazer as intervenções necessárias”, declarou o ministro, assegurando que o governo brasileiro está em contato com representantes dos principais mercados externos, sobretudo China, Hong Kong e países árabes.
Maggi defendeu a continuidade das investigações, mas ponderou que é necessário cuidado para evitar injustiças. “A operação da PF deve continuar e se, houver mais problemas, que eles venham à tona. A PF tem todo nosso apoio. Minha preocupação é defender o sistema, que é robusto e confiável. De um universo de mais de 11 mil servidores públicos federais que lidam com a questão, temos apenas 33 sob suspeita. No total, temos mais de 6,7 milhões de pessoas envolvidas nesses processos.”