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Normalização da demanda deve recuperar preços

Mês de janeiro foi de queda da cotação da carne em todos os Estados produtores; São Paulo registrou maior desvalorização, de 22,1%O preço da carne suína perdeu sustentação e recuou em janeiro de 13% a 22% nos principais Estados produtores do país, por conta da desvalorização de início de ano e da forte especulação do mercado.

No entanto, a estabilidade de oferta do produto sugere que as cotações podem se recuperar, se não já nas próximas semanas, a partir de março ou abril. Do mesmo modo, a margem da atividade ainda é positiva graças à redução dos custos com insumos, como milho e soja.

– A oferta não está grande, mas a demanda está menor neste início de ano. É a lei da oferta e da procura. A orientação é ir com calma na produção para que o mercado interno, que responde por 85% do consumo, possa se recuperar após Carnaval e Quaresma – introduz o diretor-executivo da Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS), Nilo de Sá.

Vários fatores reforçaram a tendência sazonal de queda nos preços, especialmente no que se refere à demanda. Consumidores finais, processadores e mercados. 

– O preço caiu de maneira abrupta, mas seria pior se houvesse uma oferta excessiva. Os produtores souberam controlar a oferta ao longo de 2014 e para o início de 2015. O problema é que a demanda mudou, tanto no mercado interno como no externo – explica o analista de mercado do Cepea Augusto Maia.

O início de ano, normalmente, é um período ruim para o mercado de carnes e ainda mais para a suína, por conta das férias escolares e do calor. Neste ano, além disso, o preço mais alto do produto no final de 2014 inibiu o consumidor final, que está mais endividado e preocupado com as incertezas econômicas do país.

– A carne suína perdeu sustentação nos preços e os compradores perceberam a oportunidade de pressionar para baixo. Isso ocorreu, porque a Rússia tem um lapso de importações no inverno, ao mesmo tempo em que o verão e as férias escolares diminuíram a demanda interna. As outras carnes sofrem menos, pois o boi pode ficar no pasto e o frango já é mais barato – analisa.

Com a pressão dos compradores, o preço da carne suína caiu de maneira exagerada apesar de não haver “peso acumulado” nas granjas ou estoques do produto entre os processadores, ou seja, o mercado continua fluindo.

– Vejo exagero na queda dos preços, pois agroindústrias e frigoríficos viraram o ano e passaram janeiro sem estoques. Todo exagero, seja para cima ou para baixo, acaba sendo ajustado. Neste momento é importante os produtores endurecerem, porque os preços vão se recuperar – avalia o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Folador.
 
No Rio Grande do Sul, o quilo do animal vivo, que teve média de R$ 4,26 em dezembro, foi vendido a R$ 3,56 na última semana de janeiro, o que representa uma redução de 16,5%. Para Folador, o mercado gaúcho tem condições de pagar por volta de R$ 3,80 neste momento.

A preocupação dos suinocultores em não “acumular peso” nas granjas em um momento de hiato no consumo permitiu que os compradores pudessem oferecer menos pelo produto. A expectativa em Minas Gerais é que, com o fim das férias, os preços possam se recuperar já nas próximas semanas, pois não há excesso de oferta.

– Baixou para o produtor, mas o varejo está do mesmo jeito. O começo de ano é sempre atípico. O mercado pode recuperar a partir de fevereiro. Isso depende de o produtor manter a calma para vender melhor – comentou o vice-presidente da Associação dos Suinocultores de Minas Gerais (ASEMG), José Arnaldo Cardoso Penna. Os preços em Minas Gerais recuaram 13,1% em janeiro, de R$ 4,60 para R$ 4 por quilo de animal vivo.

A tendência repete-se em Santa Catarina, que observou os preços pagos aos independentes baixarem de R$ 4,10 para R$ 3,50, uma redução de 14,7%. 

– Isso não nos preocupa, pois não temos animal sobrando. O que é produzido está sendo vendido. Devemos manter a normalidade de oferta e o preço vai se recuperar. Em 25 anos, o preço subiu apenas três vezes no início do ano – argumenta o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS), Losivanio De Lorenzi.

Para ele, as cotações vão subir a partir de março e abril e a atividade terá boa remuneração em 2015. 

– Depois do Carnaval ou da Quaresma, o mercado interno e as exportações vão se normalizar e o preço subirá. Além disso, os grãos têm tendência de queda e já operam abaixo dos R$ 1 mil para a soja e R$ 30 a saca de milho. Tenho convicção em bom retorno para nossa atividade neste ano – confia. 

De fato, a queda do preço do petróleo induz a uma maior disponibilidade de milho nos Estados Unidos ao mesmo tempo em que a China, um dos principais destinos de grãos, limitou as importações de soja. 

– Além disso, as notícias também são boas para produção interna. Apesar da estiagem, as estimativas para a safra de grãos apontam para um recorde, assim como haverá menos embarques e o estoque de passagem está confortável – acrescenta o analista do Cepea.

Maia também acredita que, a médio e longo prazo, os preços da carne suína vão se recuperar pelo alojamento bem ajustado, mas a valorização depende da demanda.

– A recuperação depende agora do mercado consumidor. Rússia volta a partir de final de fevereiro e as aulas escolares também. Os pagamentos no começo do mês também ajudam e, até mesmo, uma queda no preço de varejo pode estimular o consumidor final – enumera.

O mercado de São Paulo experimentou a maior desvalorização em janeiro com queda de 22,1%, de R$ 4,80 para R$ 3,74, para o quilo do animal vivo. 

– O consumo não caiu na mesma proporção, mas os frigoríficos estão com problemas e o consumidor final está preocupado com a indefinição econômica. Temos um efeito dominó pelo menos até o Carnaval. Vejo uma demanda retraída para 2015, mas não temos excesso de oferta – comenta o presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos (APCS), Valdomiro Ferreira Júnior.

Além da queda de preços, Ferreira aponta outros fatores preocupantes que podem prejudicar a atividade em 2015. 

– Apesar de grãos mais baratos, outros insumos vão subir os custos e podemos ter menor produtividade pelo calor. Há até possibilidade de racionamento de água e energia. É um cenário diferente de tudo que vi em décadas na atividade. As granjas devem ter um cuidado especial com a produtividade – alerta. 

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