O Instituto Biológico iniciou o desenvolvimento de uma vacina para uso emergencial de febre aftosa no futuro, após a conquista da condição de país livre da doença sem vacinação. A ideia é que a nova vacina permita resposta imunológica rápida com objetivo de conter focos em caso de reintrodução do vírus em áreas livres sem vacinação.
O workshop “Febre Aftosa, Língua Azul, Influenza Suína e Peste dos Pequenos Ruminantes” reuniu instituições de pesquisa brasileiras, laboratórios de referência internacional, indústria produtora de vacinas e profissionais do Ministério de Agricultura e Abastecimento em janeiro.
O objetivo do evento foi debater e alinhar os projetos e ações para o desenvolvimento do produto. “Nossa meta é ter a vacina em 10 anos. O mecanismo de ação dela é diferente da vacina usada atualmente, pois será aplicada apenas quando houver focos da doença, por isso, precisa de uma ação muito mais rápida para contenção de focos em casos de emergência sanitária”, explica Edviges Maristela Pituco, pesquisadora do Instituto Biológico (IB).
As estratégias foram discutidas por 40 profissionais, sendo nove deles pesquisadores do Instituto Pirbright, do Reino Unido, um do Centro Panamericano de Fiebre Aftosa (Panaftosa), cinco do Ministério da Agricultura, da área de epidemiologia e de laboratório, cinco médicos veterinários da indústria de vacinas e pesquisadores do Institutos Biológicos e das unidades regionais da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA
“Pirbright e o Panaftosa são referências mundiais na área. A contribuição deles é muito importante para o desenvolvimento do produto no Brasil, um trabalho coordenado pelo IB e pelo Instituto Pirbright. Os testes do produto serão feitos no Polo Regional de Andradina, da APTA”, diz Pituco.
Como resultado imediato do workshop, os pesquisadores brasileiros e britânicos do Instituto Pirbright finalizaram o projeto bilateral Dissecting the Immune Response of Cattle to FMD Vaccination in the Fild, submetido no final de janeiro à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), no programa Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC).
“Este é um primeiro projeto, para uma das etapas de desenvolvimento da vacina. Outros projetos serão realizados. Nossa ideia é solicitar aporte financeiro a várias instituições de acordo com o andamento do trabalho”, afirma a pesquisadora.
A doença
A febre aftosa é uma doença altamente contagiosa que ataca todos os animais de casco fendido, principalmente bovinos, suínos, ovinos e caprinos. Com o Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (PNEFA), o Brasil busca ser livre da doença, usando como estratégia principal a implantação progressiva e manutenção de zonas livres da doença, de acordo com as diretrizes estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE).
Para o secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo,Arnaldo Jardim, pesquisas como essa são fundamentais para garantir a sustentabilidade do agronegócio e da economia brasileira. “A febre aftosa é uma doença grave que tem impacto na economia do País. Desenvolver um trabalho como esse é importantíssimo, pois estamos nos antecipando a uma demanda que chegará nos próximos anos. Esta é uma recomendação do governador Geraldo Alckmin”, disse.
Língua azul
Durante o workshop também foram discutidas a doença língua azul, influenza suína e pestes em pequenos ruminantes. Pituco explica que a língua azul, por exemplo, é uma doença endêmica no Brasil e ainda com poucas informações sobre seus impactos no País.
“Sabemos que a língua azul afeta, principalmente, a exportação de animais vivos, mas o objetivo do nosso trabalho é saber a real dimensão dela no País, seus impactos e diagnósticos. Precisamos ter uma visão geral da doença”, falou a pesquisadora.
A expectativa é que eventos como esse sejam realizados anualmente. “É muito importante essa reunião para estreitarmos os laços entre as instituições e discutirmos os rumos dos projetos e trabalharmos de forma alinhada”, disse Pituco.