O Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS) deflagrou, hoje (11), a 13ª fase da Operação Leite Compensado contra a adulteração de produtos lácteos em uma fábrica da Dielat localizada em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre.
A investigação do MP indica que houve a adição de soda cáustica e água oxigenada em produtos comercializados pela empresa como leite UHT, leite em pó e compostos lácteos. Essas substâncias são perigosas à saúde e usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados. Além disso, foram detectados “pelos indefinidos” e pontos de sujeira dentro de embalagens.
Agentes cumpriram quatro mandados de prisão preventiva e 16 de busca e apreensão em empresas e residências na cidade de São Paulo e de quatro municípios gaúchos: Taquara, Parobé, Três Coroas e Imbé. Foram presos o químico, o sócio-proprietário da indústria e dois gerentes. A ofensiva teve a colaboração do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo e contou também com o apoio da Brigada Militar do Rio Grande do Sul.
Os produtos da Dielat são comercializados no Brasil e também são exportados para a Venezuela. A empresa já venceu licitações para fornecer laticínios a escolas e a outros órgãos públicos.
Ao menos sete cidades gaúchas tiveram leite fornecido pela Dielat para merenda escolar, segundo o Tribunal de Contas do Estado (TCE), entre elas Alvorada, Canela, Gravataí, Ivoti, Porto Alegre, Taquara e Viamão. Recentemente, a empresa foi vencedora de um certame para distribuir produtos derivados do leite para escolas de um município paulista.
Alquimista
Quase 12 anos depois da primeira fase e pouco mais de sete anos após a 12ª etapa, o MP-RS prendeu novamente o químico industrial conhecido entre os fraudadores como o “alquimista” ou o “mago do leite”. Ele já havia sido alvo da quinta fase da operação, em 2014, quando foi descoberta a sua participação na adição de soda cáustica, bicarbonato de sódio e água oxigenada nos produtos de uma indústria em Imigrante, no Vale do Taquari. A Dielat teria contratado o químico para assessorar a produção.
O promotor de Justiça Mauro Rockenbach, da Promotoria de Justiça Especializada Criminal de Porto Alegre comentou a prisão. “Era para ele estar usando tornozeleira eletrônica, era para sair a condenação dele, mas enquanto essas questões básicas não ocorrem, o que ele faz? Adultera leite e pior, aprimora seus mecanismos de ação, já que tem a fórmula exata da quantidade de soda cáustica para uma quantidade exata de litros de leite, fazendo com que os ajustes não sejam detectados nos exames”, ressalta Rockenbach.
Sofisticação
De acordo com o promotor, as fraudes estão mais sofisticadas, permitindo que substâncias como soda cáustica e água oxigenada escapem de detecções iniciais da fiscalização de órgãos ligados ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
“Além de ajustar o pH e mascarar a acidez do leite, essas substâncias são usadas para reprocessar produtos vencidos e recuperar itens deteriorados, o que representa graves riscos à saúde, incluindo potencial carcinogênico. A denúncia de 2024 se confirmou um novo risco”, afirma o promotor.
Próximos passos
Exames minuciosos estão sendo realizados para identificar com exatidão os lotes contaminados. As autoridades destacam a importância de intensificar a fiscalização para impedir que práticas desse tipo continuem a comprometer a saúde da população.
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Em nota, a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) lamentou as notícias envolvendo a empresa Dielat. A entidade reafirma que o leite gaúcho mantém elevados padrões de qualidade e destaca que tais adulterações não têm origem nas propriedades rurais ou nos produtores que cuidam com zelo de suas vacas e de todo o processo produtivo.
Já o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat) repudiou com veemência a informação e exigiu que o caso seja apurado com rigor, e os responsáveis penalizados. “Qualquer ação adotada no intuito de burlar o sistema posto é rechaçada em coro por todos os agentes do setor produtivo e deve ser punida”, encerra o comunicado do Sindilat.