O último registro da doença no Paraná ocorreu em 2005, em animais vindos de Mato Grosso do Sul. Foram sete focos de aftosa investigados. Porém, os laudos de laboratório nunca confirmaram se a doença realmente atingiu o rebanho.
O pecuarista André Carioba não esquece o período difícil que enfrentou entre 2005 e 2006. Apenas na fazenda dele, foram sacrificados 1810 animais. Ficaram as fotos que o produtor tirou na época e, junto, a lembrança dos prejuízos.
? Nós trabalhávamos com três giros durante o ano. Isso daí quebrou uma seqüência no confinamento trazendo um prejuízo que não foi só o dos animais que foram abatidos e, na época, indenizados com um valor de arroba de R$ 7 ou R$ 8 abaixo do valor de arroba que estava no momento, porque o caso da aftosa fez com que a arroba desvalorizasse. Esse foi um prejuízo, esse tempo perdido. E tem também a credibilidade, porque você passa por um processo onde os órgãos financiadores começam a falar, será que ele vai pagar, será que vão matar o boi, não vão matar, vai ter dinheiro, não vai ter dinheiro, vai quebrar. Então, você passa por essa descredibilidade e esse tempo todo decorrido ? explica Carioba.
A Fazenda Cachoeira, em São Sebastião da Amoreira, foi um dos sete focos de febre aftosa apontados pelas autoridades sanitárias. Eles não permitiram que a imprensa entrasse nas propriedades para acompanhar os sacrifícios. Ao todo, foram exterminados 6.781 animais no Paraná.
A origem do problema foi o Estado vizinho. Entraram no Paraná animais de uma região infectada pela aftosa em Mato Grosso do Sul. Esse gado foi leiloado e distribuído em várias fazendas paranaenses. A sorologia indicou a presença do vírus, mas os especialistas garantem que a vacina da aftosa pode induzir um resultado de falso positivo. Mais de 90% do rebanho estava imunizado. Mais tarde, novos exames foram feitos, e nenhum confirmou a febre aftosa nos animais do Paraná.
? Existe esse protocolo que fala em sorologia positiva e vínculo epidemiológico. Foi o que aconteceu no Paraná. Em cima disso o Ministério da Agricultura confirmou os focos aqui no Estado do Paraná ? diz o superintendente da Departamento de Fiscalização da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná (Defis/Seab) em Londrina, Carlos Alberto Bonezzi.
Até hoje, na opinião dos pecuaristas, a situação foi criada por questões políticas.
? Nós concluímos e os técnicos também, os veterinários que trabalhavam para os pecuaristas, e vou dizer sinceramente, e vários técnicos também da Seab, concluímos, sim, que não houve circulação viral porque não tinha nenhum animal com sintomas, não houve alastramento para outros rebanhos. Nós achamos que, realmente, o problema foi um problema político, não foi um problema dos animais, de doença, não foi esse o problema ? opina Carioba.
Foram muitos os prejuízos com o episódio e os pecuaristas decidiram criar a Associação Nacional dos Produtores de Bovinos de Corte (ANPBC). Em 2008, o Paraná foi novamente aceito como área livre de aftosa com vacinação e as exportações recomeçaram. Mas, para o presidente da associação, José Antonio Fontes, ainda é cedo para pedir o status de livre da doença sem a vacina. Ele acredita que, além da reestruturação no setor de fiscalização do Paraná, a medida deve acontecer em conjunto com outros estados para se consolidar.
? De antemão, eu lhe digo: é muito difícil nós suspendermos a vacina em novembro. Não há a menor condição de se fazer isso, do ponto de vista do pecuarista. E nós vamos lutar para que isso não aconteça. Porque é de altíssimo risco fazer uma coisa isolada e virar uma ilha, juntamente como Santa Catarina. E o Paraná é muito mais complexo do que Santa Catarina em função da localização, das vizinhanças que nós temos, inclusive com países, com Estados grandes produtores e grandes exportadores, que é o caso de São Paulo. São Paulo é o maior centro de abate de gado e o maior exportador do Brasil. Temos essa questão com São Paulo muito séria e com o Mato Grosso do Sul. Não se pode avançar em uma questão séria dessa de forma isolada ? defende Fontes.
A situação permanece indefinida. O governo do Paraná admite que não há tempo suficiente para suspender a vacinação. O rebanho foi imunizado em maio e a Secretaria de Agricultura já se prepara para realizar a segunda etapa.
? Nós estamos trabalhando para que tenha vacinação em novembro ? afirma Bonezzi.