A polêmica teve início em junho passado, com a publicação do relatório Farra do Boi na Amazônia, do Greenpeace. O relatório acusava o setor de ser o principal responsável pelo desmatamento no bioma amazônico. Na mesma época, o Ministério Público Federal do Pará (MPF-PA) entrou com ação pública contra a criação e compra de gado da região. As indústrias e as redes de varejo, aos poucos, assumiram o compromisso de boicotar a compra de carne de áreas devastadas.
Em julho passado, Bertin e Minerva assinaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPF comprometendo-se a não comprar gado de fazendas que estivessem nas listas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Ministério do Trabalho. Na prática, as empresas se comprometeram a não comprar gado de fazendas que tenham ultrapassado o limite de 20% da área de desmatamento, que estejam em unidades de conservação e terras indígenas ou que tenham relação com trabalho escravo. O CAR é o primeiro passo para regulamentar a propriedade. Mas a adesão é baixa. Cerca de 12 mil cadastros foram feitos desde meados de 2009, segundo a Secretaria de Meio Ambiente do Pará (Sema).
O número equivale a aproximadamente 10% das 110 mil fazendas do Pará.
? Esse tipo de providência não se resolve de um dia para outro, vai demorar alguns anos para se concretizar. Esse prazo é resultado de um acordo entre o MP e os frigoríficos. Não participamos disso ? diz o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Pará (Faepa), Carlos Xavier.
Segundo ele, os produtores encontraram no alto custo do cadastro uma dificuldade para fazê-lo. Ele explicou que a Sema exigia que a tomada das coordenadas geográficas fosse feita por um técnico contratado, e o custo desse trabalho aproximava-se de R$ 50 mil.
? Isso fez com que o CAR não tivesse adesão.
Diante das dificuldades, o processo foi simplificado. A Sema está permitindo que os pecuaristas façam um CAR provisório, que já é suficiente para o fim do embargo às propriedades. Ele é autodeclaratório e pode ser realizado pela internet, em um processo semelhante ao da declaração do Imposto de Renda Pessoa Física. Depois disso, as informações serão checadas. O governo também permitiu que os produtores recolhessem as coordenadas geográficas por meio de um GPS comum.
? Ficou mais barato ? admite Xavier.
A engenheira agrônoma da campanha Amazônia do Greenpeace Brasil, Tatiana de Carvalho, atribui a baixa adesão ao fato de muitas propriedades não apresentarem requisitos mínimos para a regularização.
? Existe resistência porque há muitas propriedades em situação irregular. Muitos produtores não têm título de propriedade da terra, estão em áreas indígenas ou em unidades de conservação. Para muitos, interessa estar invisível ao Estado ? diz.
Um executivo de uma grande indústria do setor, que prefere não ser identificado, vê na burocracia brasileira o principal entrave ao CAR. Segundo ele, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), MP, Ibama e governos estaduais não atuam de forma coordenada, o que acaba gerando insegurança no produtor rural. A fonte conta que alguns pecuaristas que fizeram o CAR foram multados em seguida pelo Ibama porque não tinham especificado em registro a área de reserva legal, apesar de o TAC conceder um prazo para a regularização.
? O pessoal não queria mais se registrar porque temia multas ? diz.
O procurador geral da República em Belém, Daniel Azeredo, minimizou o número limitado de cadastros.
? Para quem conhece a realidade amazônica, já é algum resultado ? diz.
De acordo com ele, antes da ação do MPF havia 600 propriedades cadastradas.