A fazenda Los Álamos, por exemplo, é uma das unidades da estância Ana Paula, que tem cem mil hectares. Seu proprietário, Ernesto Corrêa, desistiu de investir no Brasil por causa das invasões do Movimento dos Sem Terra (MST) e, em 2003, mudou definitivamente para o Uruguai.
? Eu vim para cá numa época em que estava todo mundo saindo. Estava uma crise aqui muito séria, mas eu fiz mais por paixão do que por negócio ? relata Corrêa.
Mas os negócios cresceram, tanto que seu rebanho da raça angus tem mais de 90 mil cabeças. O gerente da fazenda, Fernando Severo, apresenta algumas das vantagens para tanto investimento.
? As raças utilizadas no Uruguai, criadas no Uruguai, normalmente atingem mercados que, conseqüentemente, pagam um pouco mais. Esse é um fator. Depois, tem toda a conjuntura de produção e a estrutura política do país. O Uruguai, hoje, tem uma rastreabilidade obrigatória, também atinge mercados diferenciados em conseqüência da sua estrutura de controle.
A rastreabilidade começou no Uruguai por pressão dos países importadores, principalmente a Comunidade Européia. O sistema é obrigatório para todos os animais nascidos há três anos. Metade do rebanho já têm um brinco de identificação em uma orelha e um chip eletrônico em outra. Os criadores fazem o pedido do kit pelo correio e a previsão é de que até 2010, todos os bovinos do país estejam cobertos pelo sistema. Tudo é custeado pelo governo, que também paga as vacinas contra a febre aftosa.
O produtor rural Dorval Ribeiro possui uma propriedade no Uruguai desde a década de 80. Além da criação de gado, eles plantam 750 hectares de arroz. Sua família mantém outra fazenda no Brasil.
? Aqui são solos melhores e que produzem mais. E lá, no Brasil, a gente tem que fazer um investimento grande em calagem. São solos que não são ácidos e não tem alumínio e são solos mais férteis. Se precisa menos investimento para ter o mesmo resultado.
Apesar da agricultura ser a atividade mais rentável no Uruguai, é a pecuária que baterá um recorde este ano. Até dezembro, as exportações de carne bovina devem chegar a quase US$ 1,5 milhão. O principal comprador é a Rússia, com 40% do mercado, seguida pela União Européia, com 22%.
Os números entusiasmam os criadores, mas, por enquanto, Ribeiro não pensa em concentrar os investimentos só no Uruguai. Ele vai continuar assim, meio uruguaio, meio brasileiro, tirando o que cada país tem de melhor.
? A gente está muito contente aqui com a nossa exploração, mas o mundo está em constante movimento muito acentuado. A gente está feliz aqui com a empresa, com a atividade, mas o futuro, não se sabe.