Pecuaristas dos EUA contestam OMS sobre carne

Para eles, estudo não reflete o consenso na comunidade científica 

Fonte: Divulgação/Pixabay

Pecuaristas dos Estados Unidos recorrem a especialistas para contestar os resultados do estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) que relaciona o consumo de alimentos processados e carne vermelha à incidência de câncer em seres humanos.

Em comunicado, a Associação Nacional da Carne Bovina e dos Pecuaristas (NCBA, na sigla em inglês) afirma que a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC), responsável pela pesquisa, falhou em obter consenso entre os 22 estudiosos que analisaram a questão. A entidade norte-americana também ressalta que a IARC representa um grupo seleto de opiniões, e não necessariamente reflete o consenso na comunidade científica.

– Câncer é uma doença complexa que mesmo as melhores e mais brilhantes mentes não compreendem inteiramente. Bilhões de dólares foram gastos em pesquisas ao redor do mundo e ainda não se comprovou que nenhum alimento causa ou cura o câncer. A decisão do comitê da IARC em listar a carne vermelha como provavelmente cancerígena não muda esse fato – afirma Shalene McNeill, que é PhD em Nutrição e diretora executiva nesta área para a NCBA.

A especialista, que representa os pecuaristas, diz considerar pouco realistas os estudos que isolam um alimento de todo um padrão dietético complexo e de suas relações com o estilo de vida e meio ambiente, para determinar se são ou não um fator de risco.

Em sua defesa, a NCBA cita estudo do epidemiologista Dominik Alexander, do instituto EpidStat, publicado em maio. Na pesquisa, encomendada por órgão ligado à entidade, Alexander conclui que “a carne vermelha não aparenta ser um fator independente de risco para (se desenvolver) o câncer colorretal”. Como McNeill, Alexander defende que estudiosos que analisam a questão em seres humanos podem ser confundidos por fatores diversos. Como exemplo, o especialista cita que pesquisas mostram que pessoas que mais consomem carne vermelha têm maior probabilidade de fumarem, comerem menos frutas e vegetais e estarem acima do peso ou obesas. Todos os elementos podem levar a conclusões diversas na relação entre comer carne bovina e o risco de câncer.

– Dadas as fracas associações em estudos em humanos e a falta de evidências em pesquisas com animais, é difícil reconciliar com o voto do comitê. Dos mais de 900 itens que a IARC analisou, incluindo café, luz solar e jornadas de trabalho noturnas, eles encontraram apenas um elemento que ‘provavelmente’ não causa câncer, segundo o seu próprio sistema de classificação – afirma o toxicologista nutricional James Coughlin, consultor independente.

Como observador de um grupo do IARC, Coughlin também se diz crítico dos métodos do comitê. Segundo ele, o processo normalmente envolve cientistas que já publicaram artigos sobre os temas revisitados “e podem ter um grande interesse em defender sua pesquisa”.

Brasil

Representantes da indústria da carne no Brasil não têm criticado os resultados obtidos pela OMS, mas ressaltam que os produtos são seguros e que o seu consumo traz benefícios nutricionais à saúde humana.

– Nossos associados se orgulham de prover aos consumidores do Brasil e do mundo um produto que continuará fazendo parte da dieta das pessoas por muitas gerações – afirmou a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), em nota.

Já a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) destacou que “os produtos cárneos processados feitos no país são seguros e seguem as mais rígidas normas internacionais de segurança alimentar”.

Em evento em São Paulo na terça, dia 27, o presidente do Conselho de Administração da JBS, Joesley Batista, disse que o estudo da OMS não deve ter efeitos negativos à empresa.

– O mundo se alimenta à base de proteínas há mais de mil anos – ressaltou, acrescentando que a medicina pode evoluir e produzir novos medicamentos e técnicas para lidar com a enfermidade.

Já o presidente da BRF, Pedro Faria, também diz não esperar notícias ruins.

– A companhia foi fundada numa premissa que eu continuo a valorizar, que é a dos alimentos seguros e de qualidade. Inclusive o nosso fundador, Attilio Fontana, dizia que era o alimento que ele tinha orgulho de trazer para casa – destacou.