Em Paulínia no interior de São Paulo, o pecuarista Ricardo Viacava tem cerca de 3,5 mil matrizes, que produzem 600 touros por ano. Há 25 anos no ramo, ele investe em genética para desenvolver o rebanho, por meio de seleção de animais, fertilização em vitro e inseminação artificial. O plano é saltar para o patamar de mil touros em 2012.
? Estes investimentos em genética foram muito importantes para a consolidação do nosso rebanho. Nos últimos dez anos tivemos uma evolução dez vezes acima da média para o programa de produção de leite e para o gado de corte. Isso é importante porque você desmama um bezerro mais pesado, tem recria mais curta, encurta o período de produção e tem ganhos muito significativos de fertilidade que é a característica que a gente mais persegue, porque é a que tem mais impacto no resultado econômico da propriedade ? conta.
O produtor também investe no sistema de rotação de pastagens, em que o gado se alimenta em uma área do pasto, enquanto a outra se recupera. Isso permitiu o aumento do número de cabeças por hectare. Enquanto a média nacional é de menos de um animal por hectare, Ricardo mantém dez na mesma área.
? Principalmente na parte de manutenção e correção do solo, na proteção com curvas de nível. Dividimos a propriedade, fizemos diversos pastos rotacionados. Isso aumentou muito a capacidade da fazenda e com o investimento em calagem e adubação, a gente praticamente dobrou a capacidade de animais dentro da propriedade ? explica o pecuarista.
Em meio a discussões sobre o novo Código Florestal e a necessidade de ampliar a produção sem desmatar novas áreas, o caminho apontado pelo analista de mercado Alcides Torres é aumentar a produtividade.
? A única alternativa é produzir cada vez mais por hectare. Isso é impossível acontecer sem a adoção de tecnologia, uso de fertilizantes, de medicamento veterinário, de herbicida, de semente melhorada de pasto, genética bovina ? relata.
Aumentar a produtividade esbarra em um dos principais gargalos dos produtores brasileiros: a baixa rentabilidade. Apesar da arroba do boi gordo ter apresentado uma valorização nos últimos anos, analistas afirmam que esse crescimento não acompanhou a inflação. Alcides Torres afirma que a saída para resolver o problema seria investir na produção de bezerros e na retenção de matrizes.
? É preciso um estímulo à produção de bezerros. Esse é o grande estrangulamento da pecuária. Nós aceleramos muito a terminação, o abate de machos, estamos abatendo fêmeas também porque não tem nenhum tipo de fomento e nós vamos ter uma espécie de colapso no futuro por falta de reposição do rebanho. Enquanto o Brasil não resolver esse problema de cria, nós vamos ter sempre um mercado muito firme e com os preços em ascensão.? aponta o analista.
Segundo Torres, o ideal seria que o governo fomentasse a retenção de matrizes.
? Pode ser mais, a gente pode dobrar para uma unidade animal, 1,6, dois por hectare, dá pra fazer isso. Só que isso custa dinheiro. E de novo a gente cai no problema de que não existe uma linha de crédito para o pecuarista fazer isso ? conclui.
Os investimentos de do pecuarista Ricardo mostram o olhar otimista do produtor em relação ao mercado de carne. Ele prevê aumento na demanda e preços estáveis mos próximos anos.
? A gente tem perspectiva de aumento de consumo de carne. Deve crescer cerca de 20% nos próximos anos e a produção tem que aumentar. Hoje o preço praticado no Brasil é o preço internacional, muito acima da nossa média histórica. Então dá para trabalhar com uma margem melhor.