Pecuaristas do noroeste de Mato Grosso relatam prejuízos com infraestrutura precária nas estradas

Logística ineficiente trava progresso da região, conforme criadores de animaisA região noroeste de Mato Grosso tem na pecuária de corte uma de suas principais atividades econômicas. Atualmente, são mais de 4,3 milhões de cabeças de gado espalhadas por 12 municípios. Somente nos últimos cinco anos, o rebanho local cresceu aproximadamente 20%. No entanto, afastada dos grandes centros e quase isolada pela falta de uma logística eficiente, sofre com os principais entraves do setor. Um dos mais graves é a falta de infraestrutura. Em algumas estradas, a situação é crítica. O mo

– Agora as estradas melhoram, mas na época da chuva são três, quatro dias para fazer o trajeto que faz em meio dia. Há companheiros que tombam caminhão, carga de madeira cai, escorrega, morre. Eu saí da pista uma vez, morreu boi no meu caminhão. É complicado – lamenta.

A logística precária interfere diretamente na rentabilidade e nos planos dos produtores rurais da região. O pecuarista Florentino Martins afirma que começou a investir na criação de animais há quatro anos, no município de Cotriguaçu (MT). Segundo ele, a decisão pelo trabalho apenas com a cria foi influenciada pelas condições das rodovias.

– Como o abate é feito longe daqui, temos que pegar o gado e levar para lá. Você sai com um gado pronto para o abate e ele vai para Juína (MT). Com o problema de estrada, fica dois, três dias parado. O gado chega lá perdido. Você não recupera mais aquilo que colocou – aponta.

Quem mantém as apostas no ciclo completo da produção sofre com as perdas e com os altos custos provocados pela falta de infraestrutura, de acordo com o presidente do Sindicato Rural de Aripuanã (MT), Aparecido Walsovir Piola.

– A logística nossa é bastante deficitária. Para fazer 200 quilômetros de estrada de chão hoje, demora em torno de sete horas daqui a Juína, que é onde conseguimos pegar asfalto mais perto e é uma cidade polo. A nossa região é bastante difícil. Daqui a Juína são R$ 2,00 a diferença na arroba – diz.

A arroba desvalorizada em comparação com outras cidades é reflexo do custo do frete, que fica maior em estradas assim. Quem possui propriedades na região e precisa transportar animais por rodovias em mau estado, fica exposto ao risco de prejuízos. Além do elevado tempo para percorrer os trajetos, também são freqüentes as perdas no rendimento de carcaça na hora do abate de animais, provocadas pelo balançar dos caminhões.

O superintendente da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, pontua que a realidade será mapeada por uma caravana da entidade, que percorre o Estado para repassar informações técnicas aos pecuaristas. Ao final da jornada, o grupo enviará relatórios à Secretaria Estadual de Infraestrutura e ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), para cobrar soluções para os problemas observados.

– A gente vê todo o trabalho de três ou quatro anos de produção se perder no caminho da fazenda até o frigorífico. Todo este gado é transportado nestas estradas. As perdas decorrentes disso, de contusão, de trauma, o frigorífico não pode fazer de conta que não aconteceu. Ou seja, o gado saiu da fazenda em uma condição e chegou em outra. Precisamos resolver este problema. Isso gera muita perda para o produtor, que poderia estar tendo uma renda muito maior, não fosse o descaso com as estradas de Mato Grosso – reivindica.

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