? Nós tivemos problemas com o Mataboi. Como é de conhecimento, pediram concordata e foi aprovada. O produtor já nem pode contar com o dinheiro, eu tenho a preocupação de não receber mais, mas tenho a esperança também de que eles cumpram ? disse Jair Guariento.
Com medo de sofrer novos calotes, o pecuarista parou de vender à prazo e entregou gado à vista para um abatedouro na região metropolitana de Cuiabá. Na hora do pagamento veio a surpresa: uma diferença de R$ 6,4 mil a menos no valor que esperava receber.
? Em função desta corrente que houve com os frigoríficos, os que hoje estão em atuação também estão se fortalecendo com a situação. Eu mesmo vendi gado de cocho, tinha ganho de peso em torno de 12 arrobas, o frigorífico pagou R$ 10,8. Falta fiscalização, falta vergonha do segmento. A credibilidade começa a se deteriorar. Eu não confio mais em levar meu gado para o frigorífico na venda à prazo. Na venda à vista na balança já não dá também ? declarou Jair Guariento.
O produtor não é o único que se diz prejudicado com essa situação.
? No meu caso, eu tinha 100 novilhas para abate, pesei na balança do curral, 13 arrobas de média. 54 novilhas foram classificadas com menos de 10 arrobas. Esperava pelo menos 11 arrobas de média. O prejuízo foi muito grande ? lamentou o pecuarista Jucélio Oliveira Barbosa.
A distância entre a fazenda e o frigorífico impede o pecuarista de acompanhar o procedimento de pesagem dos animais. Os produtores alegam que isso facilitaria uma suposta manipulação do frigorífico.
? Com certeza o pessoal se aproveita da distância, o produtor não assiste o abate e eles classificam como querem. A gente vai recorrer a quem? Para eles é uma bênção, pois eles abatem e roubam a gente do jeito que querem. O produtor vai procurar os abatedouros clandestinos, que pagam à vista ? disse o pecuarista Lázaro Franco.
Diante das acusações, a empresa que abate 300 animais por dia se defendeu. Um dos proprietários explicou que a balança é fiscalizada regularmente pelo Inmetro, e diz que há falta de conhecimento por parte dos pecuaristas.
A polêmica envolvendo desacordos entre indústrias e pecuaristas na hora da classificação dos animais não é algo novo. Segundo a classe produtora, casos semelhantes já foram registrados no passado e uma das soluções apontadas foi a instalação de balanças dos produtores nas empresas, um programa conhecido como Pese Bem. Só que diante de alguns obstáculos, como o custo para manter o programa e a dificuldade de expandir o número de plantas parceiras, o projeto não pode ser tratado como a única alternativa. Para a Acrimat, o pecuarista precisa acompanhar o abate dos animais e deve mudar urgentemente a maneira de negociar o rebanho.
? Eu acho que o grande modelo que o produtor precisa fazer definitivamente é partir para a venda à vista na fazenda. O gado não sai caminhando da fazenda, ele não sai de lá sem a autorização do dono da fazenda. Se você não tem confiança no frigorífico para o qual está vendendo, você tem que exigir que aquele frigorífico te pague antecipadamente e, aí sim, ele pode levar o boi e fazer o que bem entender com ele ? observou Luciano Vacari, superintendente da Acrimat.