As reclamações partem tanto de empresários de Santa Catarina quanto dos da Argentina, que ficarão sem matéria-prima para setores como linha branca, alimentos e têxtil. Na prática, a barreira comercial determina que qualquer importação deve ser precedida de uma declaração juramentada, que será analisada em até 15 dias úteis. A exigência passa a valer a partir de fevereiro. Os segmentos da indústria catarinense mais afetados serão o de papel, laminados de aço, carne suína, têxtil, refrigeradores, motores elétricos e cerâmica.
As novas medidas são consideradas um desrespeito ao Mercosul por Henry Quaresma, diretor de Relações Industriais e Institucionais da Federação da Indústria de Santa Catarina (Fiesc). Ele ressalta que a medida protecionista atrapalha a imagem do Mercosul e a negociação com a União Europeia. O diretor da Fiesc argumenta que cabe ao governo brasileiro recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC), que regula o comércio entre nações.
A possibilidade de o Brasil não reagir com o vigor necessário é uma preocupação de Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau (Sintex). Ele lembra que faz quatro anos que a Argentina vem anunciando sucessivas medidas protecionistas que contrariam o livre comércio, mas ressalta que o governo brasileiro tem sido condescendente e que nunca houve resposta a altura.
– Nada que está escrito vale, só vale a vontade da Argentina – protesta o presidente da Sintex.
O presidente da Cidasc, Enori Barbieri, aponta outra consequência que pode ocorrer diante das atitudes do governo argentino: a saída de empresas do Estado para se instalarem no país vizinho. Hoje, o único frigorífico com participação na agroindústria catarinense que está presente na Argentina é o da Marfrig, com unidade que produz pizzas e carne bovina. O presidente da Cidasc destaca que se não houver uma reaçao brasileira logo, a unidade também passará a atuar no setor de frangos e de carne suína, artigos exportados pelo Estado.
– Estas medidas tomadas pelo governo argentino são um alerta e devemos nos preparar para coisa pior – avalia Barbieri.
Empresas argentinas também reclamam
Também houve forte reação negativa por parte dos empresários argentinos. Segundo a Câmara de Importadores da Argentina, cerca de 82% das importações destinam-se a indústrias. São peças, máquinas e matérias-primas para fábricas locais.
– A Argentina não tem um monte de coisas, e não vai passar a ter de um dia para o outro, então precisamos importar – diz Diego Pérez Santisteban, presidente da entidade.
A secretária de Comércio Exterior da Argentina, Beatriz Paglieri, defendeu a aplicação de medidas protecionistas pelo governo da presidente Cristina Kirchner.
– Se estamos em um mundo em crise, temos de tomar conta para que essa crise não chegue até aqui – defende a secretária argentina.
Segundo ela, é “fundamental” que a Argentina mantenha um saldo positivo no comércio exterior neste ano. A secretária afirmou que a “prioridade” é que o país tenha em 2012 um superávit comercial de pelo menos US$ 10 bilhões. Paglieri destaca que o governo assinou acordos com diversos setores industriais e seus respectivos sindicatos para estimular investimentos para a substituição de importações.