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Pecuária

Pesquisa aponta necessidade de plano para prevenção de doenças em caprinos leiteiros

No início de 2023, produtores, técnicos e gestores públicos vão se reunir para elaborar um plano de biossegurança

Um estudo sobre a prevalência de doenças infecciosas em rebanhos de caprinos leiteiros na divisa entre os estados da Paraíba e Pernambuco (região que concentra cerca de 70% da produção de leite de cabra do País) aponta a necessidade de um plano de biosseguridade na região, para prevenção, controle e monitoramento das enfermidades mais presentes, reduzindo os riscos de mortes, perdas produtivas e até mesmo problemas de saúde pública.

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A elaboração das bases do plano deverá acontecer nos dois primeiros meses de 2023, em uma proposta participativa, reunindo produtores rurais, instituições públicas e privadas em sua construção. A proposta é de integrar ações de assistência técnica, capacitação, rede de laboratórios para diagnóstico das doenças, melhoria de serviços de vigilância epidemiológica, além de treinamentos sobre educação sanitária e boas práticas para produtores rurais.

A pesquisa, coordenada pela Embrapa, investigou a prevalência de seis doenças (Agalaxia Contagiosa, Artrite Encefalite Caprina, Brucelose Ovina, Clamidiose, Paratuberculose e Toxoplasmose) em 51 propriedades rurais de 19 diferentes municípios da região, que compreende os territórios do Cariri Paraibano e Sertão de Pernambuco. No experimento, 937 animais foram identificados e coletadas amostras de sangue para exames sorológicos.

Os resultados de soroprevalência mostraram que algumas doenças foram verificadas, como a Agalaxia Contagiosa, infecção que pode causar prejuízos na produção de leite. Ela se mostrou presente em 11% dos animais avaliados e em 51% das propriedades rurais analisadas. Toxoplasmose (18,5% dos animais) e Clamidiose (16,1%) apresentaram os maiores percentuais de prevalência.

Imagem: Embrapa

Para os integrantes da equipe que realizou a pesquisa, os dados merecem atenção de gestores públicos e do setor produtivo, pois as doenças trazem prejuízos diretos e indiretos aos rebanhos (como diminuição da produção, elevação de custos com tratamento, necessidade de descartar animais), como também pode afetar a qualidade e, por consequência, a comercialização de produtos.

“A região possui uma organização da produção em arranjos produtivos locais, com cooperativas e associações que, em conjunto, buscaram esforços de articulação para a comercialização do leite caprino. A implementação de um plano de biosseguridade visa maior e melhor obtenção de produtos seguros e de qualidade”, explica Selmo Alves, pesquisador da área de Sanidade Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE).

A proposta de um plano deverá articular produtores rurais e instituições, públicas e privadas, envolvidas com o segmento caprinocultura leiteira, com o objetivo de mitigar a presença de microrganismos causadores das doenças no ambiente das propriedades rurais.

“Ele será baseado em um conjunto de ações integradas, visando estabelecer melhoria no manejo geral, sanitário e bem-estar dos rebanhos. Essa implantação deve ser baseada em capacitação, educação continuada e na adesão voluntária, com as devidas responsabilidades estabelecidas”, afirma Rizaldo Pinheiro, também pesquisador de Sanidade Animal da Embrapa.

Os cientistas reforçam que a conscientização e engajamento de técnicos e do setor produtivo na adoção de boas práticas é fundamental, pois os cuidados com manejo sanitário e nutricional podem reduzir bastante a incidência das doenças infecciosas nas propriedades. Outro aspecto a ser considerado é a compra de animais provenientes de outros rebanhos, que, se não forem observadas as recomendações de manejo, pode levar aos rebanhos animais doentes que contaminem os demais.

“É fundamental verificar no rebanho de origem se existe, ou existiram, casos de doenças, assim como observar a orientação técnica de informações sanitárias da propriedade e do rebanho, obtida nas instituições oficiais – secretarias de agricultura estaduais e municipais, bem como agências de defesa. Antes da chegada dos animais na propriedade, é importante proceder a limpeza e a desinfecção das instalações e manter os animais adquiridos separados do rebanho existente por 60 dias (quarentena)”, frisa Selmo Alves.

Foto: Vitor Coutinho /Embrapa

Perdas produtivas

Resultados preliminares do estudo foram compartilhados com os agricultores das propriedades analisadas e com gestores públicos dos municípios envolvidos, por meio de laudos, boletins técnicos e reuniões realizadas nos últimos meses de 2021. Uma das preocupações compartilhadas nesses encontros foi o impacto das doenças na produção do leite caprino da região da divisa, que possui um rebanho com cerca de 130 mil cabeças, e produção de nove milhões de litros por ano, aproximadamente.

Os pesquisadores destacam que as manifestações dessas doenças podem resultar em problemas na produção e qualidade do leite, distúrbios reprodutivos, morte de animais, além de comprometer o comércio do leite e seus derivados. “Algumas doenças como a Agalaxia Contagiosa e a Artrite Encefalite Caprina causam a mastite, o que ocasiona alteração físico-química e biológica do leite determinando comprometimento da qualidade e deterioração do produto”, acrescenta Pinheiro.

Esse compartilhamento de informações sobre prevalência de doenças nos rebanhos da região e a proposta de um plano de biosseguridade foram considerados contribuições importantes, na visão de agentes públicos e produtores rurais participantes dos encontros.

Segundo Grazielle Sobrinho, produtora rural de Livramento (PB), as informações sobre as enfermidades apresentadas pela Embrapa a ajudaram exatamente em um momento em que ela ingressa na atividade da caprinocultura leiteira. “Nem sempre a gente tem como identificar as doenças, por falta de recursos e de técnicos mais experientes no assunto.”

Geneci Lemos, produtor rural de Coxixola (PB), afirmou que, a partir das informações compartilhadas pela equipe da Embrapa, já foi possível implantar melhorias no manejo de seus animais e que um plano de controle das doenças voltada para a região seria “excelente”. “O conhecimento já me ajudou muito e quanto mais informação, apoio e pessoas nos orientando, melhor”, destaca o criador.

Gestores dos municípios da região classificam a proposta de criação de um plano de biosseguridade para os caprinos leiteiros como uma iniciativa que, a partir do envolvimento de diferentes instituições públicas e privadas, pode trazer soluções mais efetivas para a sanidade animal nas propriedades rurais.

“Esta articulação será bem-vinda. A Embrapa é uma empresa de pesquisa que apoia as instituições com ações para o diagnóstico e solução de problemas que, na maioria das vezes, o pequeno agricultor não dispõe de serviços e tecnologias”, ressalta Geandre Alves, secretário de Agricultura de São Domingos do Cariri (PB).

O secretário de Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Livramento (PB), Gabriel Montenegro, foi outro gestor a participar das reuniões para apresentação dos dados preliminares e ressalta acreditar que uma proposta de biosseguridade que consolide conhecimentos diversos trará uma “resposta positiva” para os produtores da região.

“Assim, cada produtor vai tomar suas decisões para produzir leite ou carne de qualidade e passar para o consumidor produtos de qualidade”, acrescenta ele.

Minimizar riscos de zoonoses

Segundo os pesquisadores, os cuidados para evitar a proliferação de doenças zoonóticas devem estar presentes em uma proposta de biosseguridade, observando recomendações de manejo que possam reduzir os riscos. Entre elas, a limpeza e desinfecção de instalações e equipamentos e higienização de mãos e utensílios após atividades de ordenha ou manipulação de carne crua, frisa Alves.

“Recomenda-se também: evitar o contato de rações com fezes de felinos e roedores; reduzir a população de roedores na propriedade; que mulheres grávidas não tenham contato com fezes de gatos e não venham a ingerir carne mal passada”, acrescenta Pinheiro.

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