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Pesquisa desenvolve vacina contra doença pulmonar suína

Em Santa Catarina, a Pasteurella multocida sorotipo A (PmA) prevalece em mais de 50% dos animais abatidos com lesões de pneumonia e pleurite

Fonte: Thiago Gomes/Susipe

Após três anos de estudos, pesquisadores da Embrapa Suínos e Aves conseguiram isolar e testar a agressividade de diversas cepas da Pasteurella multocida sorotipo A (PmA), que pode ser responsável por doenças respiratórias em suínos. A partir dos experimentos, eles desenvolveram um protótipo de vacina que já foi testada em animais. Os resultados, de acordo com a equipe, foram promissores.

Agora, será publicado um edital para selecionar uma empresa especializada e firmar parceria na fase final de desenvolvimento e produção dessa vacina de uso veterinário. 

O estudo da Embrapa levou em consideração a importância da PmA em quadros patológicos de pneumonia e pleurite/pericardite em suínos, doenças pulmonares que oferecem um prejuízo considerável à cadeia produtiva. “Os impactos incluem gastos com medicamentos, redução no desenvolvimento dos animais, aumento da mortalidade na fase de terminação dos suínos e aumento das condenações no abate, o que afeta diretamente a cadeia produtiva, seja na granja ou no frigorífico”, comenta o pesquisador da Embrapa Nelson Morés, líder do projeto.

Um trabalho executado pela equipe sobre o impacto econômico das pleurites/pericardites em suínos em um abatedouro grande estimou um prejuízo para a indústria de R$ 9,85 por suíno abatido. “Supondo-se que 50% dessas lesões sejam causadas pela PmA, o prejuízo para o abatedouro seria de R$ 4,92 por suíno abatido”, explica Morés.

Nos últimos anos, quadros graves de pneumonia por PmA vêm sendo observados, causando perdas severas em diversas criações de suínos, principalmente nas fases de crescimento e terminação. “Por isso, a importância de propor uma vacina que atinja diretamente o agente”, explica o pesquisador Luizinho Caron, virologista da equipe. Ele esclarece que a grande diversidade de sorotipos e cepa da Pm e a dificuldade no entendimento da patogenicidade limitam o desenvolvimento de vacinas comerciais para pasteurelose pulmonar.

Em função das características atuais dos sistemas de produção, em que os suínos são criados confinados em concentração elevada e, na maioria das vezes, com mistura de leitões de diferentes origens nas fases de creche ou terminação, as enfermidades tornaram-se relevantes para o avanço da produtividade.

Como começou?

A pesquisa baseou-se inicialmente na identificação e coleta de amostras de suínos com doença pulmonar em rebanhos das principais regiões produtoras de suínos: Sul, Centro-Oeste e Sudeste. As amostras foram isoladas e a doença foi reproduzida em laboratório da Embrapa Suínos e Aves, seguindo os Princípios Éticos de Experimentação Animal, com suínos do rebanho experimental da Unidade, livres dos principais patógenos respiratórios, entre eles PmA.

“Testamos oito dessas amostras e verificamos que umas eram mais agressivas que outras. Depois, selecionamos uma amostra considerada muito agressiva e trabalhamos na elaboração da vacina”, conta Caron. Um dos aspectos do trabalho foi descrever a expressão da resposta imune dos suínos induzida pela infecção da PmA e determinar a prevalência dessa bactéria em tonsilas de suínos vacinados e não vacinados. 

Nos estudos seguintes, a vacina foi testada inicialmente em camundongos e posteriormente em suínos. De acordo com Caron, a vacina foi feita a partir de cepas virulentas da bactéria. “Os genes de virulência são importantes para proteger contra a bactéria”, detalha. A equipe também trabalhou na identificação desses genes para que a vacina pudesse agir de forma eficaz. “A identificação dos genes é importante e faz toda a diferença para que possamos obter um produto que age diretamente no centro do problema,” afirma. Parte da identificação desses genes já está pronta e foi usada no desenvolvimento da vacina proposta, porém, as pesquisas seguem sob coordenação de pesquisadores da área e devem ser finalizadas em breve, com publicação de trabalho científico.   

Segundo dados da equipe que atuou no projeto, a prevalência de PmA nas lesões pneumônicas em suínos tem se mantido alta ao longo do tempo no Brasil. No Rio Grande do Sul, por exemplo, em suínos de abate com lesões de pneumonia e pleurite, o índice é de 43%. Em Santa Catarina, o número fica em 51,3%, em lesões responsáveis por desvio de carcaças pelo serviço de inspeção sanitária. Trabalhos em outros países da Europa e nas Américas também demonstram a alta prevalência desse agente. Na Dinamarca, 79% das lesões de broncopneumonia cranial em suínos a PmA estava presente.

A doença e o controle

A bactéria P. multocida (Pm) é considerada um importante microrganismo que faz parte da microbiota residente no trato respiratório dos suínos. Até o momento, foram identificados cinco sorotipos capsulares (A, B, D, E e F) e 16 sorotipos somáticos. O sorotipo A, objeto da pesquisa da Embrapa, é um dos mais encontrados em lesões pneumônicas em suínos.

Conforme relata Morés, a Pm induz quadros clínicos variáveis, dependendo do grau de imunidade do animal, da virulência da cepa e do sorotipo envolvido. “Alguns têm sintomas mais agressivos, ocasionando patologias como a pneumonia hemorrágica, pleurite e pericardite”, explicou.

Alguns sinais clínicos observados nos animais infectados são dificuldade para respirar, respiração abdominal, prostração, falta de apetite e temperatura corporal alta (41,6ºC). A tosse aparece como um sinal relevante quando esta bactéria está associada à pneumonia enzoótica ou influenza e, nesses casos a redução no desempenho é significante. A mortalidade nesses casos pode chegar a 40%.  A doença ocorre com maior frequência no período de terminação dos suínos, depois de 100 dias de idade, até o abate.

Os sinais clínicos e lesões macro e microscópicas, na maioria das vezes, de acordo com o pesquisador Morés, não são suficientes para o diagnóstico definitivo da pasteurelose pulmonar. “O diagnóstico precisa ser feito considerando outros aspectos como o isolamento da PmA ou demonstração do agente nas lesões recentes de pneumonia, pleurite ou pericardite”, diz.

O controle das infecções respiratórias causadas pela PmA inclui três principais fatores: o fornecimento de boas condições ambientais e de manejo aos animais, a utilização de antimicrobianos e a vacinação. Atualmente, o controle de Pm em rebanhos de suínos é feito basicamente pelo uso de antimicrobianos na forma de tratamentos preventivos coletivos na ração ou água, ou terapêutico individuais aos animais doentes.

Quanto à vacinação, Nelson Morés explica que há vacina inativada comercial indicada para prevenção da pasteurelose pulmonar, porém, sua efetividade tem sido questionada. “Em condições de campo, veterinários clínicos que atuam na suinocultura brasileira têm obtido resultados insatisfatórios com o uso dessas vacinas. Uma possível explicação para isso é que as amostras contidas nas vacinas sejam diferentes daquelas envolvidas nos quadros clínicos observados nas granjas”, comenta.

O protótipo da vacina desenvolvida pela Embrapa, e que deve ser finalizada na parceria com uma empresa especializada, pretende atuar no foco da doença, ou seja, no controle do agente (PmA). “Nos experimentos, conseguimos respostas imunes satisfatórias e o número de condenações diminuiu”, explicou o pesquisador. Para controle da qualidade da vacina produzida, também foram desenvolvidos métodos para testar a eficácia da vacina em camundongos.

O edital para seleção de uma empresa especializada estará disponível no portal da Embrapa Suínos e Aves. Também estão disponíveis no portal publicações e informações sobre a doença.

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