A indústria do couro foi responsável por 6,86% da balança comercial brasileira em 2011 e emprega mais de 50 mil trabalhadores. As exportações do setor cresceram de US$ 700 milhões em 2000 para US$ 2,045 bilhões em 2011, mostrando que existe grande demanda para o produto brasileiro.
No processo de curtimento, em vez do poluente sulfato de cromo, largamente utilizado pela indústria há décadas, a Embrapa aposta em taninos vegetais como curtentes, tais como acácia e castanheiro, além de sintéticos. São substâncias pouco impactantes e biodegradáveis.
O sulfato de cromo foi uma revolução nos curtumes no início do século passado, por ser barato e facilmente encontrado na natureza, além de imprimir características inigualáveis ao couro. Porém, pelo fato de ser considerado perigoso, é poluente e deixa resíduos sólidos após o curtimento. Esses resíduos não podem ser queimados, pois a combustão transforma o sulfato de cromo trivalente em sua forma hexavalente, considerada substância cancerígena, necessitando de um tratamento adequado antes da deposição em aterros controlados.
A fiscalização de órgãos ambientais obrigou a indústria a encontrar alternativas à queima e ao processo de enterrar os resíduos cromados. Hoje, eles passam por um “descurtimento”, em que o colágeno é hidrolisado para ser usado como “enchimento” no próprio couro. No entanto, mesmo esse processo gera efluentes com cromo, que precisam ser tratados. O que se faz é precipitar o cromo que, transformado em lodo, volta a ser sulfato de cromo, após tratamento ácido.
Mercados mais exigentes
Consumidores da União Europeia (UE) têm preferido artigos manufaturados com curtentes “ecofriendly” (ou amigavelmente ecológicos). Montadoras alemãs têm exigido que os bancos de seus veículos sejam revestidos com couro sem cromo. Além disso a REACH, um sistema integrado autorização e restrição de substâncias químicas na UE, tem impedido a entrada de manufaturados feitos com produtos químicos perigosos para a saúde humana.
— Por isso investimentos em alternativas como o uso de taninos vegetais e curtentes sintéticos são soluções viáveis. Atualmente é mais caro curtir a pele dessa forma, mas estamos no caminho do futuro sustentável. Os mercados mais exigentes demandam e pagam mais por isso — afirma o pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste Manuel Antônio Chagas Jacinto, responsável pelo laboratório de couros. Segundo o Jacinto, o Brasil tem tecnologia para produzir couro de alta qualidade sem usar o cromo.
Reuso da água
Outra opção sustentável é o reuso da água. No laboratório da Embrapa, um circuito fechado separa os efluentes de curtimento, elimina os poluentes, e retorna a água para novo curtimento. Jacinto também tem feito experimentos com água de estação de tratamento de esgoto (ETE), em vez da água industrial ou retirada do subsolo, como fazem os curtumes. Os resultados têm sido positivos.