Na propriedade onde Wilson Pinto trabalha o rebanho leiteiro foi reforçado no mês passado, com a compra de 10 vacas. Com isso, a produção praticamente dobrou, chegando a 300 litros por dia. O investimento teria sido um ótimo negócio não fosse a brusca desvalorização do produto, que hoje é vendido por R$ 0,35 o litro ? quase a metade do preço praticado há algumas semanas. Como o valor é insuficiente para cobrir os custos, a permanência na atividade pode estar com os dias contados.
? Os preços pagos são bem inferiores aos custos. O patrão já avisou que a previsão é que nos próximos meses o preço caia ainda mais, e que, diante disso, já pensa em abandonar a leiteria para se dedicar à engorda de gado ? diz o funcionário.
Em setembro, o preço médio pago pelo litro de leite em Mato Grosso do Sul foi de R$ 0,45. Neste mês, a média já caiu para R$ 0,40 ? valor cada vez mais distante do registrado no primeiro semestre, quando o litro do produto custava entre R$ 0,80 e R$ 0,90.
A situação é mais uma conseqüência das oscilações do mercado financeiro, que nos últimos meses fizeram com que os preços dos produtos lácteos no cenário internacional despencassem. Além disso, segundo especialistas, ao mesmo tempo a produção de leite no Brasil registrou crescimento, enquanto o consumo sofreu retração.
De acordo com a economista da Federação de Agricultura do Estado (Famasul) Adriana Mascarenhas, os pequenos produtores serão os maiores prejudicados com a desvalorização, já que usam menos tecnologia e não produzem em grande escala. Ela diz que a melhor solução para eles, por enquanto, é ter cautela e fazer todas as contas na ponta do lápis.
? Diante da crise não há expectativa de melhora dos preços num curto espaço de tempo. O jeito para não afundar nas dívidas e não sofrer danos ainda maiores é controlar os gastos, evitando investimentos desnecessários ? recomenda Adriana.