– O preço das commodities está em alta e isso fez com que o custo de produção aumentasse muito. Estamos em um período de seca, desfavorável para a produção, e ainda temos um diferencial de mercado, que não tem acompanhado os níveis de consumo do mesmo período do ano passado, por exemplo – explica Cenyldes Moura Vieira, presidente da Cooperativa Agropecuária Ltda. de Uberlândia (Calu).
A Calu está recebendo 140 mil litros por dia. O preço pago aos pecuaristas por litro está na média de R$ 0,88, mas existe uma variação que vai de R$ 0,78 a R$ 1,03.
A eficiência do laticínio, a exigência do consumidor e as regras instituídas pelo Governo Federal criaram uma certa complexidade para o cálculo final do preço pago ao produtor. Quando se refere à quantidade, por exemplo, a cooperativa paga R$ 0,01 a mais para cada 100 litros de leite.
Vieira explica ainda que a quantidade de leite influencia no custo do frete, já que muitas vezes os caminhões tanque precisam rodar mais para completar a carga. Por isso, a diferença dos preços entre as propriedades varia de acordo com o volume da produção.
– Se captamos mil litros de leite em uma única propriedade ou mil litros em 20 propriedades diferentes, temos um custo na chegada do caminhão na indústria, temos 20 análises diferentes realizadas diariamente e 20 folhas de pagamento a mais para rodar no nosso departamento de contabilidade. Então tudo isso impacta neste custo final do preço pago ao produtor.
Em relação à qualidade, a cooperativa distribui R$ 0,10 de bônus, levando em conta a contagem de células somáticas até 600 mil por mililitro. Isso tem a ver com a sanidade das vacas e com a contagem bacteriana total (CBT), que não pode passar de 600 unidades. Com relação aos chamados sólidos, o leite é bonificado quando apresentar entre 3% e 3,3% de proteínas e entre 3,3% e 3,9% de gordura.
Em sua propriedade, os irmãos Adriano e André Pereira têm 30 vacas em lactação. A silagem acabou antes do final da seca e eles estão usando cana-de-açúcar para complementar a alimentação. Por isso, a produção caiu de 300 para 230 litros por dia. Adriano faz o cálculo do que recebe e do custo, que não para de crescer.
– O litro de leite aqui está saindo a R$ 0,81. Daí, descontamos a parte da cooperativa, a parte de ICMS e a parte de transporte. No nosso caso, o litro de leite sai a R$ 0,77 o litro, mas ainda precisamos comprar o concentrado, a parte de sal mineral e os medicamentos. Sobra pouco. Na verdade, sobra quase nada – conta Adriano.
É por isso que produtores como Clistenes Procópio chamam seu trabalho de “a mágica de produzir leite”.
– Na dieta dos animais entra farelo de soja, milho, núcleo e megaláctea. O custo dessa ração aumentou muito esse ano por conta do farelo de soja, que subiu entre 60% e 70%, passando de R$ 600 para R$ 1.390 – explica o pecuarista.
Procópio tem 130 vacas em lactação. Produzindo 3 mil litros por dia, com quantidade e qualidade, ele consegue R$ 0,97 pelo litro. A seca obrigou o produtor a trabalhar com confinamento total e o custo aumentou 13%. Mesmo com a margem apertada de lucro – cerca de R$ 0,04 -, o pecuarista está investindo para crescer em rebanho e produtividade, apostando em preços melhores a médio e longo prazo e atendendo a realidade do exigente mercado do leite.
– O laticínio hoje exige muita qualidade, que é o sólido do leite – proteína, gordura, CCS e CBT. Se conseguir unir tudo isso e tiver uma longevidade no gado, acho que é possível ser um produtor de sucesso – afirma Procópio.
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