Produtores gaúchos debatem riscos e oportunidades da retirada do escudo de imunização contra aftosa

Polêmica coincide com os 10 anos da reintrodução do vírus em Joia (RS)A intenção do Rio Grande do Sul de voltar a aspirar ao status de livre de febre aftosa sem vacinação reacendeu o debate sobre oportunidades comerciais e riscos que acompanhariam a retirada do escudo da imunização. O ressurgimento da polêmica coincide com os 10 anos da reintrodução do vírus no município de Joia, em agosto de 2000, apenas quatro meses após o Estado concluir aquela que seria a última etapa de aplicação da vacina e iniciar a contagem de 12 meses para o reconhecimento internacional.

Em site especial, confira áudios, fotos, vídeos e uma linha do tempo do combate à aftosa no RS.

Na época, a opção foi debelar os focos como sacrifício dos animais, mas o surto de 2001, que atingiu outras regiões, forçou a volta da seringa.

Controverso, o tema provoca divisão e deve ser uma das principais pautas da Expointer este ano. Entre os setores mais sensíveis, a indústria de suínos mostra maior entusiasmo por ser, no Estado, mais dependente das exportações do que a pecuária. O novo status permitiria acessar mercados mais exigentes, a exemplo de negociações encaminhadas por Santa Catarina, único Estado livre sem imunização.

? A vacinação compromete o desenvolvimento, reduz a ambição, inibe investimentos, onera o produtor e retira valor dos produtos ? sustenta Rogério Kerber, diretor executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Suínos do Rio Grande do Sul e presidente do Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal.

Na pecuária há resistências. O diretor executivo do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Estado (Sicadergs), Zilmar Moussalle, não vê chances no curto prazo e enxerga mais riscos do que benefícios. Ele cita avanços no controle do trânsito de animais e a existência de fundo para indenizações em caso de sacrifício, mas aponta falhas no controle das fronteiras. Os benefícios imediatos seriam reduzidos pela falta de matéria-prima para exportar.

? A indústria está preparada, mas no campo não há garantia de abastecimento de carne de qualidade e sem períodos de queda na oferta de animais ? complementa Moussalle.

A Associação Brasileira de Angus (ABA), que agrega criadores de uma das raça mais representativas do rebanho gaúcho, defende a manutenção do status de livre com vacinação.

? Não vemos grande vantagem para correr este risco. Primeiro devemos melhorar o volume de carne de qualidade para exportar ? pondera o presidente da entidade, Joaquim Mello, que vê a vulnerabilidade geográfica como ponto crítico em caso de novo surto no Mercosul.

O acesso a mercados hoje está mais relacionado à capacidade de negociação do que à questão sanitária, entende Mello, citando o Uruguai “que teve mais focos em comparação a gente, vacina e exporta para os EUA”. Também causa arrepios imaginar um foco próximo a um criatório de ponta e a necessidade de sacrificar animais que representam um patrimônio genético de valor incalculável.