Da cabanha do produtor rural Ricardo Biesdorf, em Eldorado do Sul (RS), saem 6 mil litros de leite por dia. A produção é toda vendida para duas empresas, mas a garantia de mercado não tranquiliza o proprietário.
Biesdorf teme principalmente a concorrência com o leite importado. Neste sábado chega ao fim um acordo que limitava a importação de leite longa vida, leite em pó, soro de leite e queijo. Sem ele, o setor pode ficar vulnerável diante da oferta dos produtos de fora.
? A gente sabe que o Brasil hoje tem um preço maior que o preço praticado nos países do mercosul, falando de Argentina e Uruguai. E isso vai fazer com que entre produtos de fora com mais facilidade. Mais facilitado ainda pela redução do dólar ? diz Biesdorf.
Outro problema enfrentado pelos produtores é a concorrência com Estados que reduzem os impostos sobre os produtos lácteos. De acordo com a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), a saída encontrada pelos gaúchos é vender o leite pelo menos R$ 0,05 abaixo do preço que é comercializado pela indústria paulista.
? O leite longa vida produzido dentro do Estado de São Paulo termina em alíquota zero. E o leite que entra, e o principal mercado consumidor do brasil é São Paulo. Nós dependemos deste Estado, não só o Rio Grande do Sul, mas Paraná e Minas Gerais. Do mercado de São Paulo, nós pagamos 18% de ICMS. Só aí já dá um diferencial astronômico ? afirma Jorge Rodrigues, coordenador da Comissão de Leite da Farsul.
De acordo com o Sindicato das Indústrias, os clientes paulistas reduziram as compras desde que entraram em vigor os benefícios concedidos pelo governo local, no início de abril.
? Nós não temos pra onde colocar este leite se não se sujeitar a política de São Paulo. Nós temos uma produção muito maior. Mesmo que consuma mais, Santa Catarina e Paraná não têm público suficiente, então, por mais que esta regra seja penosa, nós somos obrigados a colocar este produto e tentar, de uma certa maneira, balizar um pouco o custo pra conseguir fazer o escoamento desta produção ? explica Darlan Palharini, secretário executivo do Sindilat.