Este é um resultado parcial do projeto “melhoramento genético de bovinos da raça gir leiteiro e seus cruzamentos”, desenvolvido no Polo Nordeste Paulista/APTA Regional da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Segundo o pesquisador e coordenador do projeto Anibal Eugenio Vercesi Filho, o girsey incorpora a precocidade que é uma característica do jersey.
Além disso, a pesquisa da Embrapa, que testou três raças européias (jersey, holandês e pardo suiço) sobre o girolando (cruzamento entre as raças gir leiteiro e holandês), mostra que nas filhas de jersey são duas lactações a mais e, consequentemente, dois bezerros.
? A expectativa é que tenham maior número de bezerros na vida, menor peso e maior produção de sólidos. A certeza é que a idade do primeiro é menor e ocorre também menor intervalo entre partos nas girsey ? afirma Vercesi Filho.
No entanto, a amostra ainda é pequena. Segundo o pesquisador o ideal é que se tivesse pelo menos 60 vacas de cada grupo genético e hoje são cerca de 20 animais.
Vantagens do jersey
Entre as motivações para o cruzamento com jersey, Vercesi Filho aponta que, em pesquisa publicada no início da década, este grupo genético tinha a mesma produção de leite do holandês na vida útil, porém melhor produção de sólidos (gordura e proteína). Como existe uma tendência para o pagamento pelo diferencial de qualidade (se pagava preço fixo pelo leite), o cruzamento com o jersey passou a ser uma opção muito interessante do ponto de vista econômico. Segundo o pesquisador, outro motivo é o tamanho das vacas jersey.
? Quando se trabalha com produção de leite a pasto, o que conta é a produção por hectare, e não por animal. Com animal de menor porte, tem-se mais animais por unidade de área, o que pode refletir em maior produção ? afirma.
Resultados de pesquisas (tese de mestrado de Vercesi Filho, de 2000, e trabalho de 2004, da pesquisadora Vera Lúcia Cardoso do Polo Regional Centro Leste) demonstram que o peso da vaca adulta é uma característica importante em sistemas de produção de leite a pasto. Em outras palavras, tirar leite a pasto de vaca muito pesada é antieconômico.
Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Criadores de Gir Leiteiro (ABCGIL), Lúcio Rodrigues Gomes, o melhoramento na qualidade do leite é oportuno nesse momento em que vai se tornar realidade no Brasil o pagamento do leite por qualidade (Instrução Normativa 51 entra em vigor em janeiro de 2012).
? Essas duas raças (zebuína e taurina) se complementam por agregar animais especializados em leite e com alto teor de sólidos. Além disso, o gir, por ser adaptado aos trópicos, apresenta resistência ao ectoparasita e menor incidência de mastite ? afirma o vice-presidente da ABCGIL.
Segundo Gomes, que também é produtor em Taubaté, algumas cooperativas, principalmente de São Paulo e Minas Gerais, já estão pagando bonificação pelo leite de qualidade, R$ 0,05 por litro, no caso do Vale do Paraíba. Atualmente, um dos apelos comerciais das centrais de sêmen é sobre touros que transmitam a suas filhas a característica de produzir leite com elevado teor de sólidos.
Parceria com produtores
Por volta de 2005/2006, o criador Otávio Roxo Nobre Barreira, da Fazenda do Conde, começou a prestar serviço de transferência de embrião para produtores de gir e girolando.
? Depois, passamos a produzir os próprios animais. A aceitação foi muito grande no mercado devido à escolha de animais de ponta para nosso rebanho, com o apoio dos técnicos do Polo Regional que nos permitiu fazer essa genética diferenciada ? afirma Barreira.
As novilhas do criador começaram a ganhar prêmio em pistas de feiras agropecuárias de grande expressão. No torneio leiteiro de 2011, da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região de Mococa, os animais da Fazenda do Conde fecharam a média de 58 litros de leite.
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? A pista mostrou que os animais eram bons e bonitos, o torneio mostrou que os animais eram produtivos. Assim, temos a chancela de que o projeto é bem-sucedido ? aponta o criador.
Atualmente, Barreira tem serviço de produção de material genético e serviço de multiplicação de material genético para terceiros. A Fazenda do Conde vende 80% do seu material genético para produtores do Brasil inteiro.
? O Polo tem me ajudado na escolha de touros melhoradores do rebanho. Esse trabalho com o girsey tem colaborado de forma decisiva no trabalho que faço com girolando, apesar de ser outro cruzamento ? afirma.
Teor de gordura e proteína
Há seis anos, quando herdou a Fazenda Angico, o criador Augusto Tabilerti decidiu fazer cruzamento de seu gado girolando com o jersey.
? A ideia era obter animais menores, mais produtivos e persistentes no leite, para ter um pouco mais de animais ? disse.
O tempo de lactação mais curto de animais girolando pode ser estendido com a introdução do jersey. Segundo o criador na média a produção supera a do girolando e o teor de gordura e proteína do cruzamento com jersey é maior.
Em uma área de 15 hectares de pastagem e produção de alimento para a seca, Tabilerti mantém 80 animais (vacas, novilhas e bezerras), dos quais 40 vacas em lactação. A produtividade não é maior porque o criador ainda possui muito gado novo. Segundo ele, é vantajoso para o produtor usar mais as inovações proporcionadas pela instituição de pesquisa.
? Há seis anos, comecei tirando 200 litros de leite, no ano passado, cheguei a tirar quase 800 litros. Fui muito influenciado pelos técnicos do Polo ? afirma o criador.
Hoje, a produção de Tabilerti está em torno de 530 litros por causa da venda de 20 vacas e da renovação do rebanho com cruzamento das três raças, o chamado tricross (gir com holandês e jersey em cima).
Gado com melhor genética
Segundo o presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite da Região de Mococa, Wagner Becker, com a expansão da cana e a perda de área de pastagem, o produtor modernizou a atividade e introduziu um gado com melhor genética e maior volume de leite em pequena área. De acordo com Becker, nesse processo, se destaca a rusticidade, precocidade e lactação do girsey, que não perde para nenhum outro tipo de cruzamento. Segundo ele, também foi importante o apoio do Polo Regional à cooperativa (e aos seus associados), na forma de abertura a visitas, cursos, dias de campo e orientação sobre manejo de pastagem e nutrição animal.
Segundo Becker os resultados positivos gerados pelas pesquisas do Polo Regional são do conhecimento do governador do Estado de São Paulo Geraldo Alckmin.
? Ele inclusive achou muito interessante o cruzamento do gir com jersey ? afirma.
O presidente da cooperativa lembra que, com a criação do Polo, a região ganhou uma equipe de pesquisadores para atuar em áreas como pecuária de leite, piscicultura, hortaliças, café, cana-de-açúcar, milho e economia rural. Segundo ele, é fundamental a recomposição da equipe, pois esses pesquisadores têm papel importante no contexto do desenvolvimento rural da região.
