Em Mato Grosso do Sul, um dos Estados mais importantes na produção de carne bovina do país, a situação é delicada. Dos 36 frigoríficos com serviço de inspeção federal habilitados para abater bovinos, 45% fecharam de vez as portas ou suspenderam temporariamente as atividades. São pelo menos 16 indústrias, que juntas têm capacidade para abater em média 10 mil animais por dia.
Atualmente, a maior parte das indústrias em atividade opera com no máximo 60% da capacidade. De acordo com a Associação dos Matadouros, Frigoríficos e Distribuidores de Carnes, o quadro pode ficar ainda mais grave nos próximos meses, já que as empresas consideradas de pequeno ou médio porte, que abastecem o mercado interno e por enquanto ainda não sentiram com a mesma força o impacto da crise, podem não resistir à concorrência com os grandes grupos. Pelo menos duas indústrias podem fechar as portas nos próximos dias.
? Se não houver apoio do poder público reduzindo a carga tributária, que prejudica principalmente as pequenas empresas, muitas não deverão aguentar e também fecharão as portas, podendo provocar desemprego em massa ? diz o presidente da Assocarnes, João Alberto Dias.
A turbulência no mercado financeiro internacional provocou escassez de crédito, derrubou a liquidez e desestabilizou a balança das indústrias ? situação que começou a se agravar no segundo semestre do ano passado e que mês após mês tornou o cenário bastante preocupante para os empresários. As conseqüências foram queda no volume de abates e fechamento de indústrias.
O fechamento dos frigoríficos não deveria prejudicar o setor, mas a capacidade de abate instalada no Estado é bem superior à demanda. Sendo assim, as empresas normalmente já trabalham com os pés no freio. Na prática, entretanto, não foi isso o que ocorreu. Coincidência ou não, a crise derrubou os abates. Em janeiro deste ano foram abatidos 246 mil bovinos, 80 mil a menos do que no mesmo período de 2008.
As exportações também recuaram. Em fevereiro deste ano, a venda de carne bovina produzida no Estado para o exterior caiu 56% em relação ao volume vendido em setembro, no início da crise. Trata-se de um prejuízo que passa dos 30 milhões de dólares e que acendeu um sinal de alerta para a classe produtora.
O presidente da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Laucídio Coelho Neto, comenta que o Estado possui um dos maiores parques frigoríficos do país destinados à exportação.
? Operar com a capacidade ociosa prejudica e preocupa os pecuaristas ? completa.