Quilo do suíno vivo precisa valorizar R$ 1 para tirar criador do vermelho

Representantes do setor afirmam que produtores só sairão do vermelho no segundo trimestre do ano

Fonte: Roberta Silveira/Canal Rural

Mesmo com a leve recuperação de preços em fevereiro, os criadores de suínos das principais regiões produtoras do país ainda precisariam de R$ 1 por quilo de suíno vivo a mais para deixarem de operar no vermelho. De acordo com as projeções de representantes do setor, a situação só deve melhorar para esses produtores a partir do segundo trimestre deste ano. As margens foram esmagadas pela forte valorização dos preços de milho no início deste ano, agravadas pelo recuo dos preços da carne suína e pela menor demanda interna.

Para o diretor executivo da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS), Nilo de Sá, apesar da reação nos preços em fevereiro, que ficou em torno de 10 a 20 centavos, dependendo da praça, “o preço atual ainda é insuficiente para suportar o valor do milho, o suíno teria que estar R$ 1 mais caro do que o atual só para empatar o custo”. 

Em Minas Gerais, o custo de produção atualmente está em média em R$ 4,10 por quilo de suíno vivo, sendo que os criadores recebem apenas R$ 3,50 por quilo, disse Antônio Ferraz, presidente da Associação dos Suinocultores do Estado de Minas Gerais (Asemg). No estado, o preço da saca de milho gira em torno de R$ 40 a R$ 42, sendo que em outubro do ano passado, era de R$ 26 a saca.

O preço do suíno continua estagnado, afirma Valdecir Luis Folador, presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). “Mesmo com alguma reação no mercado interno, que foi puxada principalmente pelos pequenos e médios frigoríficos, a recuperação só deve vir com mais força no segundo trimestre”, por questões sazonais, explicou ele.

“Ainda que o preço da carne bovina esteja nas alturas e a suína muito barata, não estamos vendo um estímulo ao consumo”, afirmou o presidente da Asemg. Nilo de Sá, da ABCS, afirma que apesar da maior competitividade ante a carne bovina, o frango continua sendo a proteína animal mais barata.

“O fato de a carne bovina estar mais cara nos ajuda, mas o consumidor ainda pode fazer a escolha pela proteína mais barata, o frango”. Além disso, uma perspectiva que preocupa os setores de carne é de que, com a queda de poder aquisitivo da população em virtude da crise econômica do país, o consumo de carnes, em geral, pode cair.

Milho

No lado dos custos, a perspectiva é de que o alívio virá apenas no segundo semestre, com a colheita da segunda safra de milho. A produção da primeira safra do cereal, em fase de colheita atualmente, vem caindo ano após ano, e nas últimas semanas foi prejudicada por problemas de chuvas fortes. Com a oferta escassa, os preços do cereal não têm recuado no ritmo que os criadores esperavam.

De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a primeira safra de milho deve totalizar 28,35 milhões de toneladas, 5,8% menor que a safra anterior 2014/2015. Enquanto isso, a segunda safra do cereal, a safrinha, em fase em plantio, deve ser de 54,99 milhões de toneladas.

“Mesmo em plena colheita do milho, o mercado está muito aquecido e não tem força para cair. Cerca de 60% a 70% do que foi colhido já foi comercializado”, comentou Luis Folador, da associação gaúcha. Outra preocupação é quanto ao volume que será exportado na segunda safra. Se o cenário de exportações aquecidas se repetir neste ano, a oferta interna pode não ser suficiente para aliviar os custos de criadores de suínos.

Abates

Com os custos elevados e sem perspectiva de melhora no curto prazo, há relatos de que suinocultores, principalmente os independentes, preferiram adiantar a venda dos animais para abate, inclusive com peso abaixo do ideal. 

“Estamos vendo o mercado abatendo os animais mais leves. Terminando os animais leves, podem começar a abater matrizes”, alertou Ferraz, da Asemg. No curto prazo, a maior oferta contribui para pressionar a cotação no mercado interno, mas no médio e longo prazo, o risco é de redução da produção, o que sustentaria os preços.

Exportação

Outro problema para os criadores de suínos é que, ao contrário de outros mercados de proteína animal no Brasil, nem o aumento das exportações é suficiente para sustentar os preços domésticos. No primeiro bimestre do ano, os embarques de carne suína somaram 82,98 mil toneladas, recorde para o período desde o início da série da Secex, em 1997.

“Mesmo com as exportações ajudando a enxugar a oferta doméstica, os preços internos do animal vivo e da carne caíram no correr de fevereiro. Além da oferta, a pressão viria também das altas temperaturas, que inibem o consumo de carne suína”, afirmaram os pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP).

“O volume de exportação de carne suína ainda é baixo, corresponde a 15% a 18% do que produzimos no Brasil. Se considerarmos a projeção de que a produção de carne suína deve crescer entre 70 mil e 100 mil toneladas neste ano, só para manter a oferta doméstica estável, precisaríamos bater recorde em exportação”, afirmou Nilo de Sá, da ABCS. 

Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no ano passado, os embarques de carne suína aumentaram 9,7% na comparação com 2014 e alcançaram 555,1 mil toneladas. O recorde histórico é de 625,1 mil toneladas, marca alcançada em 2005.