– Estamos diante de uma revolução em termos tecnológicos da pecuária brasileira, que sempre foi tratada como o patinho feio do agronegócio nacional em produtividade. Já é a terceira vez em quatro anos que constatamos o aumento de produtividade – disse o sócio-diretor da Agroconsult, André Pessoa, organizador do evento.
Conforme levantamento da expedição, a produtividade média de abate está em sete arrobas por hectare por ano. A do ciclo completo, apurado pela expedição, é 9,4 arrobas por hectare por ano, 30% a 35% superior a observados em ralis anteriores. A média nacional é de quatro arrobas por hectare/ano.
Entretanto, quando se compara a produtividade por atividade – levantamento feito pela primeira vez no Rally da Pecuária -, a da cria e recria ainda está aquém da engorda e do ciclo completo. A cria, pelos dados da expedição, está com uma produtividade de seis arrobas por hectare/ano, enquanto a média nacional ainda é mais baixa, de dois arrobas por hectare/ano. Já a recria, pela expedição, é de 9,7 arrobas por hectare por ano, sem parâmetros nacionais, e a da engorda, 40 arrobas por hectare por ano.
– Mais uma evidência de que as técnicas da pecuária, principalmente as de engorda, já estão dominadas. Precisamos é dominar melhor a cria e a recria. E isso é um desequilíbrio que o setor precisa trabalhar ao mesmo tempo que são necessárias políticas públicas para trabalhar melhor – completou Pessôa.
Para o coordenador técnico geral do Rally da Pecuária e sócio da Agroconsult, Maurício Palma Nogueira, a cria e recria sempre foram atividades que não tinham muito espaço, porque o criador não estava capitalizado.
– Hoje, o bezerro está chegando ao valor que precisava estar no mercado para o criador estar mais capitalizado e os investimentos serem maiores na atividade – explicou.
Na edição deste ano do Rally da Pecuária, a Agroconsult levantou dados de um rebanho de 1,9 milhão de cabeças, com uma taxa de desfrute de ciclo completo de 32,6%, idade média de abate de machos de 29,7 meses.
Confinamento
O volume de animais de confinamento no Brasil em 2014 deve atingir 4,66 milhões de cabeças, total que representa uma alta de 6,4% ante os 4,38 milhões de animais confinados em 2013, segundo levantamento da Agroconsult. Antes da expedição, a expectativa era de que o confinamento somasse 4,35 milhões de cabeça.
– Alteramos nossa projeção porque durante as visitas técnicas percebemos que ainda há dúvida por parte dos produtos sobre a decisão de confinar ou não – explicou Maurício Palma Nogueira
Ainda segundo ele, muitos pecuaristas também optaram por não informar sua intenção de confinamento por temer que a divulgação de uma maior expectativa de animais confinados derrube os preços da arroba do boi gordo.
Nogueira também destacou a adoção do confinamento pelo pecuarista como decisão estratégica para aumentar a sua produtividade. Na amostra observada no Rally, as unidades que praticam o confinamento mostraram uma produtividade, em média, 40% superior.
Com a maior projeção de confinamento para o ano, a Agroconsult também revisou de 2,8% para 4,1% a sua estimativa para o crescimento da produção de carne bovina no ano. De acordo com a consultoria, em 2014 a produção deve chegar a 10,65 milhões de toneladas equivalente carcaça.
Para Nogueira, apesar do aumento da oferta, as demandas interna e, especialmente, externa devem ser capazes de absorver essa alta. Ele lembra que o elevado preço da carne bovina no mercado doméstico, hoje cerca de 24% superior ao verificado em 2013, limita uma maior expansão do consumo.
– O desafio do mercado é aumentar a demanda interna, justamente porque o consumidor não está aceitando preços tão altos.
Em contrapartida, Nogueira espera que as exportações de carne brasileira em 2014 superem em cerca de 14% as vendas externas do ano passado.
Realizada pela Agroconsult, a expedição teve cinco equipes que visitaram propriedades em Estados do Centro-Oeste, Sudeste, Norte e Sul para obter informações das pastagens, presença de erosão e de plantas invasoras, além de um histórico de utilização dessas pastagens relatado pelos pecuaristas. Foram 165 municípios percorridos em um total de 55 mil quilômetros.