O cenário do mercado nacional, porém, é promissor. Nos últimos 11 anos, o rebanho brasileiro de ovinos aumentou 30%. Já no Rio Grande do Sul, a lógica é inversa. Entre 2001 e 2012, houve redução de cerca de um milhão de cabeças e a expectativa é terminar o ano com uma produção média de pouco mais de 3,5 milhões de cabeças.
A justificativa para a diminuição está na desorganização da cadeia produtiva. Não há frigoríficos especializados no abate dos animais, que em 2010 era de 600 mil cabeças e este ano deve ficar em torno de 400 mil no Estado gaúcho.
Para o produtor Mário Oliveira – que aumentou seu rebanho em 50% neste ano – a demanda aquecida justifica a mudança na organização da cadeia produtiva.
– Eles têm que se adequar, têm que abater ovinos, fazer embalagem, cortes especiais que vende tudo, tudo tem valor agregado.
O mercado de carne ovina está aquecido pela alta procura por restaurantes e estabelecimentos que oferecem o produto. Somente na Grande Porto Alegre, são mais de 370 mil abates, e o consumo é de 1,2 kg per capita. No Brasil, esse mesmo consumo é um pouco maior, cerca de 2 kg por pessoa.
– Esse aumento de consumo se dá a características muito particulares que a carne ovina tem e que permite a elaboração de cardápios mais sofisticados, fazer parte de grandes redes de supermercados, hotéis e de um consumo mais qualificado voltado ao turista e consumidor de maior poder aquisitivo – justifica o professor Julio Barcellos, da UFRGS.
A procura se reflete na produção de Mário Oliveira, que afirma que não dá conta da demanda mesmo com o aumento do rebanho.
– Tudo que nós produzimos até hoje fica muito menor que a demanda, tem uma carência de oferta de cordeiro, nós vamos incrementar a produção de ovelhas, fazer silagem, melhorar o campo nativo. Tudo o que se produz vende, e se tivesse mais, venderia – garante Oliveira.
Se não há produto suficiente no mercado interno, a solução é recorrer aos países vizinhos. Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o Uruguai é o principal exportador de carne ovina para o Brasil. De janeiro até agosto de 2012, o país importou quase três mil toneladas do produto, um crescimento de 33% em relação ao mesmo período do ano passado.
Para o professor Julio Barcellos, é preciso compreender a realidade do mercado e investir em estrutura.
– Depende de estrutura de organização de abates organizada, políticas públicas que regulamentem, normatizem a cadeia de produção. Deve se separar o que é produção de lã e o que é produção de carne. Nenhum deles é subproduto do outro – ressalta Barcellos.