O pecuarista Cristiano Prata Rezende, abate de quatro a cinco mil cabeças de gado por ano nas suas fazendas no triângulo mineiro. O produtor resume a preocupação do setor afirmando que os preços estão caindo devido a muita oferta e pouca procura no mercado.
O presidente da Associação dos Pecuaristas do Mato Grosso (Acrimat), Luciano Vacari, concorda que a concentração das indústrias frigoríficas faz o produtor perder no bolso e pequenas indústrias no Estado, fecharem as portas. Estudos mostram que o produtor recebe aproximadamente 4% a menos onde existe a concentração da indústria frigorífica.
? A gente vê frigoríficos pequenos fechando as portas, demitindo seus funcionários, gerando desemprego e causando prejuízo enorme para a economia ? afirmou Vacari.
Uma pesquisa realizada pela Acrimat aponta que apenas um frigorífico concentra 35% do abate no Brasil. No entanto, com outros números, a indústria afirma que não há concentração no setor. O levantamento foi apresentado com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em encontro que ocorreu na sede da Sociedade Rural Brasileira, em São Paulo.
O diretor executivo da Abiec, Associação que representa a indústria de exportação ao Grupo de Estudos Agrários da USP, Fernando Sampaio, apresentou o estudo e apontou que 39 milhões de cabeças de gado são abatidas no Brasil a cada ano, e pouco mais de 26% são feitos pelos quatro maiores frigoríficos do país, JBS, Marfrig, Minerva e BRF. Somando aos dez maiores, este índice não passa de 31%.
O diretor executivo da Abiec, Fernando Sampaio, afirma que em lugar nenhum do mundo esta situação caracteriza concentração de mercado.
? Nos EUA, se você comparar, os três maiores frigoríficos possuem 68% da produção. O problema do Brasil é que grande parte do número de abates não são realizados em frigoríficos com inspeção federal ? aponta Sampaio.
Pelo levantamento, 55% dos abates são feitos em frigoríficos com Serviço de Inspeção Fiscal (SIF). No entanto, em 45% a fiscalização é feita somente pelos Estados e municípios. São mais de 21 milhões de cabeças abatidas fora do controle federal.
? A grande indústria exportadora segue, hoje, uma série de critérios, como os estipulados pelo IBAMA e pelo Ministério do Trabalho. Não sei se esses abates seguem todos essas orientações ? disse o diretor executivo.
Segundo o advogado e professor da USP, Fernando Scaff, a fiscalização é mais eficiente nos grandes frigoríficos e por esse motivo as fusões podem ser benéficas para o mercado. Com o aumento da competitividade entre os grandes, a concentração de indústrias no mercado de carne pode excluir os pequenos produtores. No entanto, uma alternativa seria incentivar os pequenos frigoríficos regionais.
? O pequeno frigorífico concorre com o grande ou ele não concorre. Ele tem um caminho livre e pessoal próprio para seguir. Nas pequenas cidades do país elas podem na verdade fomentar pequenos frigoríficos. De um lado temos a concentração, mas por outro podemos permitir que outras empresas do mercado possam atuar e ter também condições de viabilidade econômica ? explicou o professor.
Nesse ponto, Cristiano Prata Rezende concorda.
? Nós temos que fomentar os pequenos frigoríficos regionais para que eles não desapareçam do mercado ? disse o pecuarista.