Representante da Associação dos Produtores de Biodiesel no Brasil (Aprobio), Alexandre Pereira ressalta a importância do produto pro mercado de biodiesel.
O sebo bovino é a segunda matéria mais utilizada nas usinas, com 15% de participação. Só perde para a soja. O Brasil produz hoje cerca de 750 mil toneladas de sebo, o que representa matéria-prima de sobra para atender o mercado, que só não é maior por causa da limitação de demanda, mas que, indiscutivelmente, já provou que deu certo pelo custo e disponibilidade.
– O sebo vem de uma cadeia organizada, da produção da carne, então não tem o problema do desabastecimento dele, ao contrário. Você tem aí a utilização de um subproduto que antigamente era descartado – conclui Pereira.
O pesquisador Gabriel Levy fez um estudo detalhado sobre a viabilidade econômica do sebo bovino como matéria-prima para o biodiesel. Ele ouviu representantes de oito usinas no Brasil. Em uma tese de mestrado, relacionou as características do produto e as variáveis para a eficiência da cadeia. E concluiu que é necessária a maior organização do setor, além da padronização da matéria prima.
– Existe a necessidade de instituir um padrão, o que seria o perfil de um sebo interessante, adequado para o biodiesel. Ele deve ter um nível de acidez, nível de água, ponto de entupimento que pode gerar no biodiesel para atender tantos por cento. São fatores interessantes a serem comentados – diz o pesquisador.
Atualmente, o sebo já complementa a cadeia de matérias-primas necessárias para garantir que o Brasil tenha segurança no abastecimento de biodiesel.
Algumas usinas no interior de São Paulo já entraram no mercado de biodiesel feito com gordura animal. Uma delas começou produzindo mil toneladas e agora já chega a nove mil toneladas por mês. A cada dia, chegam no local 10 caminhões com matéria-prima, sebo de fornecedores do Brasil inteiro.
– Nós recebemos de frigoríficos diretamente e também de graxarias. Quem recebe, recicla o sebo dos açougues e também de frigoríficos menores – diz o diretor da usina, Ricardo Magalhães.
A estrutura da usina que faz biodiesel de sebo é semelhante à que faz de soja, a principal matéria-prima hoje no Brasil. Em uma usina de Charqueada, a 200 quilômetros de São Paulo, com 80 mil metros quadrados, os tanques têm capacidade para estocar até 10 milhões de litros de sebo líquido e de biodiesel pronto. Conta também com uma área de processamento do produto, onde estão os laboratórios da usina. Do local, depois de mais de 20 análises, sai assim o óleo pronto para o mercado.
Até pouco tempo atrás, o sebo era um excedente da pecuária. Apesar de ser usado na produção de sabão e na indústria de cosméticos, foi só com a transformação em biodiesel que este produto ganhou valorização de fato. Uma tonelada do sebo chega a custar hoje até R$ 2 mil. Sem contar que, com esta nova destinação, resolveu-se, de certa forma, um problema ambiental e se gerou um produto de qualidade, controlado e atestado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP).
O gado que o criador Paulo Parisi tem na fazenda está com maior valor agregado agora. Não vale só pela carne ou pelo leite que produz. O pecuarista, pequeno produtor, tem 20 vacas e mantém no pasto alguns reprodutores, como um touro nelore de três anos. O animal pesa 500 quilos, dos quais pelo menos 17 kg são de gordura, tão cobiçada pela indústria de biodiesel.
O pecuarista conta que já foi açougueiro. Naquela época, há 20 anos, o sebo virava sabão ou era jogado fora.
– Se você não derreter ele e virar sabão, você vai fazer o que com ele? Então acho que foi uma boa medida do governo implantar esse sistema de virar combustível – defende Parisi.
– A maior dificuldade do sebo é a diversidade de origem, a logística. Então é mais difícil fazer biodiesel de sebo, mas o produto é tão qualificado quanto o óleo, apesar das dificuldades operacionais – garante Magalhães.