A metodologia foi apresentada em um simpósio sobre genética animal, que acontece em Londrina (PR). O alvo inicial foi o gado leiteiro, mas logo os criadores de corte também o adotaram. Atualmente, a técnica é utilizada tanto na América Latina como nos Estados Unidos e Europa. Agora, o desafio é implantar o processo na Austrália, informa o pai do método, o pesquisador do Instituto de Reprodução Animal de Córdoba, o argentino Gabriel Bó.
? A tecnologia, que foi muito bem desenvolvida na América Latina e que está presente não só na Argentina e no Brasil, mas também no Paraguai, Uruguai, Colômbia, está sendo adaptada à Austrália. O maior condicionante da Austrália é o fato de ter pouco pessoal morando nas fazendas. A Austrália tem uma produção muito extensiva, com muitas fazendas grandes, com uma quantidade de gado importante, mas com pouco pessoal. Então, a aplicação dessa tecnologia tem que ser adaptada para a realidade deles ? disse Bó.
Além dos temas técnicos, o simpósio também está discutindo como a pecuária pode crescer sem prejudicar a sustentabilidade.
O economista e diretor da Sociedade Rural Brasileira, Francisco Vila, critica a falta de estatísticas confiáveis no Brasil, que dêem suporte às iniciativas dos produtores, inclusive as ambientais. Ele diz que não existe um número exato para o rebanho bovino nacional, estimado entre 170 e 205 milhões de cabeças. Mesmo assim, acredita que é preciso reduzir esse número para 150 milhões de animais, mas aumentar o abate para 50 milhões de cabeças por ano e a exportação para 35% acima do volume atual. Ele também alerta que é preciso ampliar a área de florestas no Brasil, em pelo menos cinco vezes, mas diz que, antes das leis, é preciso apoio do governo federal ao criador.
? A lei vem em terceiro lugar. Primeiro tem que conscientizar a sociedade e parece que isso já foi feito, nós temos programas e até a televisão contribuiu para isso. Segundo, você tem que arrumar os fundos, através de empréstimos ou vantagens fiscais, por isso os outros países todos tem os subsídios. Tendo essas duas coisas, se cria normas razoáveis, não como existe na parte ambiental. Temos 16 mil normas, ou seja, nenhum dos cinco milhões de agricultores do Brasil está na legalidade, porque sempre uma dessas normas pega ele ? avaliou Vila.
A inseminação artificial em tempo fixo foi desenvolvida nos anos 1990 e consiste na aplicação de medicamentos que induzem as vacas de uma propriedade a entrar no cio ao mesmo tempo. O método veio como uma resposta à dificuldade que o criador tem em detectar o período de cio de cada animal. No Brasil, cerca de nove milhões de vacas são inseminadas artificialmente. Desse total, quatro milhões passam pela técnica. O professor da USP Pietro Baruselli, diz que a eficiência reprodutiva é bastante satisfatória.
? A vaca, todos sabemos, não tem dia para manifestar o cio, que pode ocorrer de domingo a domingo, a qualquer dia, a qualquer hora. Hoje essas técnicas estão proporcionando ao produtor que ele sincronize a atividade reprodutiva da fêmea e realize a inseminação em um dia só ? explicou Baruselli.