As famílias no meio rural estão envelhecendo sem perspectiva de um sucessor para dar continuidade às atividades produtivas, já que grande parte dos jovens migra para os centros urbanos em busca de oportunidades de desenvolvimento profissional e realização pessoal. Essa questão da sucessão da agricultura familiar foi destaque no 2º Encontro Pan-americano de Jovens Produtores de Leite.
O pesquisador da Embrapa Gado de Leite Fábio Diniz e o consultor de cooperativas na área de sucessão na agricultura familiar Lucildo Ahlert abordaram o tema e apresentaram possíveis soluções para que os produtores não enfrentem tantas dificuldades no momento da sucessão. Para ser economicamente viável, a produção leiteira requer dedicação intensiva. Além disso, a atividade está sujeita aos riscos climáticos, mercadológicos e biológicos.
– Muitos jovens preferem ter um emprego fixo na cidade, com salário certo, férias definidas e maior variedade de lazer – explicou Fábio Diniz, que conduziu pesquisa sobre o tema junto a filhos de produtores.
O consultor Lucildo Ahlert apresentou as mudanças na realidade de pais e filhos ao longo do tempo e discutiu a sucessão da agricultura familiar como ainda sendo um tabu nas famílias devido à questão da herança. Ahlert explicou que a longevidade dos pais também posterga a sucessão, que ocorre tardiamente.
– A partir do momento em que o pai passa o controle da propriedade para o filho, sente que deixa de ser referência em sua comunidade. Para muitos, quando a sucessão remete à perda da capacidade ou condição de administrar sua propriedade. Ou seja, remete a uma morte social – afirmou Diniz, da Embrapa.
Para o futuro das propriedades, o pesquisador acredita na aplicação de um plano para a sucessão ser mais harmônica. Os pais devem preparar os filhos para o empreendedorismo e estimular a visão de negócios nos filhos.
– A partir daí uma das soluções é preparar o plano de sucessão e começar uma gestão compartilhada para transferir gradualmente a propriedade e finalizar o processo – orienta.
Ter um planejamento de longo prazo do processo de sucessão, feito com auxílio de um extensionista rural ou pessoa especializada, auxilia na redução de conflitos familiares. Vivenciando esta temática, o produtor rural César Augusto Figueiredo, da Cooperativa Agropecuária de Parauapeba (MG), está iniciando a sucessão na propriedade da família e, apesar das barreiras, está confiante.
– O processo é bem lento, mas com o tempo eu e minha família estamos nos estruturando. Meus pais me apoiam com certo receio, mas com o tempo isso vem evoluindo – afirma Figueiredo.